Embora a apuração dos votos de Fortaleza já indicasse a reeleição do prefeito Roberto Cláudio (com mais de 90% das urnas abertas), o candidato Capitão Wagner (PR) recusava a alcunha de derrotado. "O comitê está lotado, aqui não tem ninguém derrotado. Nosso sentimento é de vitória", afirmou, enquanto dezenas de militantes se aproximavam para cumprimentá-lo. O postulante chegou ao seu comitê de campanha por volta das 18h40, acompanhado do candidato a vice, Gaudêncio Lucena.
>Sentimento é de 'dever cumprido'
Na ocasião, o então postulante agradeceu à expressiva votação que recebeu no segundo turno e reclamou de supostos crimes eleitorais cometidos por mesários. Wagner avalia que sai da disputa com um capital eleitoral "indiscutível", mas evita falar sobre a vontade de disputar outro cargo nas próximas eleições. "É o momento de esfriar a cabeça, descansar. Não sei nem se vou estar vivo em 2018. Se for o meu destino, coragem para disputar em 2018 a gente tem", declara.
O candidato diz estar desgastado psicologicamente e fisicamente por conta da intensidade da campanha. Para ele, o resultado foi positivo, mesmo com a derrota. "Não vi ainda o resultado finalizado, mas cresci 15 pontos enquanto o adversário cresceu 12 ou 13, então o nosso segundo turno foi muito melhor. E eu vou repetir: minha campanha ainda está devendo, eu ainda vou ter que dar um jeito de pagar as contas de campanha. Já a campanha dele gastou mais de R$ 9 milhões, foi a mais cara do país. Eu cresci como gente e como cidadão na campanha. O coração está cheio de alegria".
Capitão Wagner diz sair fortalecido da campanha, visto que saiu de 194 mil votos nas eleições de 2014 para quase 600 mil. "A gente tem consciência de que esses votos não são todos meus, mas nos reunimos com algumas lideranças e chegamos a essa surpreendente marca, desbancando, inclusive, candidaturas sólidas como a da ex-prefeita Luizianne e a do deputado Heitor Férrer", destaca.
História
O candidato também comemorou o fato de ter chegado ao segundo turno da Capital apenas seis anos após ingressar na vida política. "O povo de Fortaleza me deu a chance de fazer história. Faz seis anos que entrei na política e já tive condições de disputar com um grupo econômico forte, que tinha quatro máquinas. Isso mostra que a população acredita no nosso trabalho e que vamos chegar lá".
Questionado se a presença mais efetiva dos correligionários Tasso Jereissati (PSDB) e Eunício Oliveira (PMDB) na campanha poderia ter trazido um resultado melhor, Wagner disse que a estratégia escolhida foi correta. "No primeiro turno, havia um problema por conta da agenda deles no interior e em Brasília, mas eles contribuiram bastante. Eu só tenho a agradecer aos dois pela maneira como se dedicaram na fase final. Agradecer também ao Gaudêncio, que se dedicou integralmente à campanha", afirmou.
Para ele, nem mesmo o acirramento maior e os discursos mais inflamados no segundo turno foram prejudiciais. "Foi uma tentativa de mostrar a verdade, de mostrar que o que acontecia no programa do outro candidato não correspondia com a realidade. Acho que isso ficou claro e deu certo, tanto que nós crescemos mais do que ele no segundo turno", declarou.
Capitão Wagner disse acreditar na possibilidade de vencer o pleito até o fim da tarde de ontem (30), especialmente pelo empate técnico revelado pela pesquisa do Ibope, divulgada no último sábado (29). "Fui abraçado na área nobre, coisa que nunca aconteceu no primeiro turno", conta.
Diante da vitória de Roberto Cláudio (PDT), Wagner disse esperar que ele mude a forma como vinha governando a cidade e se colocou à disposição para ajudá-lo com propostas e debates. "Apresentei sugestões quando fui vereador, mas infelizmente elas não foram acatadas. Estou disponível para ajudar. Nossa campanha foi de agregação, quem sou eu para agora desagregar?", afirmou.
Apoiadores
Após o resultado da eleição, vários apoiadores foram ao comitê encontrar o deputado estadual Capitão Wagner. Na ocasião, discursaram para a militância o vice-prefeito Gaudêncio Lucena, o senador Eunício Oliveira (PMDB), o deputado estadual Carlos Matos (PSDB), o deputado federal Cabo Sabino, Eliana Novais (PSB) e Fernanda Pessoa. Todos os pronunciamentos defendiam que os sufrágios obtidos teriam tornado Capitão Wagner um novo líder na política fortalezense.
"Não é hora de lamentação. Plantamos um grande líder", disse Gaudêncio, defendendo a necessidade de uma reforma política que acabe com a reeleição. "É difícil concorrer com a máquina", justificou. Gaudêncio criticou o "fisiologismo" dos adversários e sinalizou a possibilidade de Wagner concorrer ao Governo do Estado ou mesmo ao Senado nas próximas eleições.
Liderança
O senador Eunício Oliveira também declarou que o então o deputado do PR deixa a disputa como uma liderança política forte. "Ele não é só capitão. É comandante da oposição no Ceará", afirmou. Na oportunidade, Eunício não poupou críticas aos Ferreira Gomes, que apoiaram a candidatura de Roberto Cláudio. "É uma família prepotente que usa descaradamente o dinheiro público para ganhar a eleição", disparou.
O senador ainda chamou Ciro Gomes de "desmiolado" e reclamou de supostas agressões do político a Wagner. Por fim, Eunício defendeu a necessidade de acabar com a reeleição. "Ou a gente acaba com a reeleição ou ela acaba com a democracia", afirmou o senador.
A deputada Fernanda Pessoa também discursou para a militância. Ela defendeu a necessidade de continuar com a luta travada durante a campanha. "Quem perde (com o resultado) é a população, e é por ela que nós vamos continuar a nossa luta", declarou. O deputado Carlos Matos endossou a mesma posição. "Isso é só o começo do que temos que fazer. Não podemos nos contentar que Fortaleza seja uma das cidades mais violentas do Brasil", disse.
Antes de Capitão Wagner chegar ao comitê, dezenas de militantes acompanhavam a apuração e, mesmo que Roberto Cláudio já liderasse a disputa, eles comemoravam sempre que a diferença entre os dois postulantes diminuía. Quando o resultado já estava definido, um caminhão com militantes de Roberto Cláudio parou em frente ao comitê. Eleitores de Wagner se aproximaram aos gritos de "Eu vim de graça", mas o veículo saiu antes que houvesse qualquer conflito.