Para tentar conquistar e segurar o deputado Heitor Férrer no PSB, o novo presidente estadual da legenda, o deputado federal Odorico Monteiro, admitiu estar construindo uma “agenda de entendimento” com o parlamentar, que inclui conversas reservadas e até mesmo a manutenção da estrutura da direção municipal, enquanto as demais, em todo o Estado, foram destituídas.
“Quando fomos convidados para assumir o comando do partido, tentamos conversar com Danilo [Forte], mas ele optou por não debater este assunto. Respeitamos. Tenho conversado com Heitor Férrer. Todas as comissões ficaram inativas, menos de Fortaleza. Estamos construindo uma agenda de entendimento com ele. O deputado foi candidato a prefeito de Fortaleza. Hoje, tem consolidado uma posição dele com o partido”, disse Odorico, ontem, durante entrevista coletiva.
Odorico disse ainda que o PSB busca alinhamento com seus posicionamentos históricos e saiu em defesa de Carlos Siqueira, presidente nacional da legenda, a quem classificou de “intelectual”. Segundo ele, não houve expulsão, mas destituições das comissões de provisórias de quatros estados brasileiros onde seus dirigentes contrariaram decisão da direção nacional.
O parlamentar, porém, evitou falar das disputas internas e sobre possíveis expulsões. “Dura são as reformas contra o povo”, disse ele ao responder o questionamento se a decisão nacional de expulsar não era um pouco dura.
Sobre o assunto, citou apenas que os questionamentos jurídicos contrários a sua indicação à presidência do PSB, já foram resolvidos. “Nós estamos realinhando o PSB, inclusive, estivemos já em conversa com companheiros históricos que militaram no PSB e tinham se afastado um pouco, o nosso realinhamento está nos trazendo de volta para a base partidária”, frisou ele, destacando que, a partir de agosto, dará início a encontros municipais, que embasarão o encontro nacional da sigla marcado para outubro deste ano.
Além disso, deixou claro que o partido integra a base do governador Camilo Santana (PT) e, portanto, não há mudança neste quesito. Inclusive, lembrou que o secretário de Cidades, Jesualdo Farias, foi indicado pelo PSB. Sobre a postura de Heitor contra o governo Camilo Santana, Odorico disse apenas que o PSB possui “democracia partidária”.
“Caminho natural”
Heitor Férrer, no entanto, mantém a tendência de deixar os quadros do PSB. “Com todo respeito à nova direção do partido, sabemos da estreita ligação do deputado Odorico com o grupo dos Ferreira Gomes e governador Camilo. Com isso, o caminho natural do PSB é ser levado para esse grupo político, via governo, o que torna inviável a minha permanência no partido. Estamos esperando essa fase de turbulência em Brasília passar para conversar com o Odorico e estabelecer nossa conduta”, frisou Férrer ao jornal O Estado.
Adversário antigo do grupo comandado pelo ex-governador Cid Gomes, Heitor deixou o PDT quando ele, os irmãos Ciro e Ivo Gomes e o prefeito Roberto Cláudio ingressaram no partido em 2015. A escolha pelo PSB, à época, foi articulada pelo então presidente da sigla, o deputado federal Danilo Forte. O parlamentar foi destituído do comando da legenda no Estado após votar a favor da Reforma Trabalhista, contrariando a determinação da direção nacional da legenda.
Ex-dirigentes entregarão manifesto em apoio Danilo
Ex-presidentes de comissões provisórias e diretórios do Partido Socialista Brasileiro (PSB-CE) assinaram um manifesto em favor do deputado federal Danilo Forte, destituído da presidência da comissão executiva estadual pela direção nacional da legenda, em maio. O documento será encaminhado à direção nacional do partido.
Além do apoio ao parlamentar, o documento, em forma de carta, protesta contra a revogação de todas as formações do partido construídas desde 2015 nos municípios cearenses. Segundo os ex-dirigentes, o partido já tinha conhecimento do posicionamento pessoal de Danilo acerca das reformas em discussão no Congresso Nacional, antes mesmo de ingressar na sigla socialista.
Segundo a prefeita de Alto Santo, Íris Gadelha, “no partido deve prevalecer a democracia, por meio da construção do diálogo. Nós não fomos comunicados da decisão, nem de qualquer punição. Este manifesto é para que nós sejamos ouvidos pela direção nacional”. Para ela, o diálogo constante entre o deputado e as lideranças políticas da capital e do interior foi fundamental para a eleição de prefeitos, vice-prefeitos e vereadores do partido no ano passado. Além de Íris Gadelha, o deputado Heitor Férrer, presidente do PSB de Fortaleza, e outros 72 ex-presidentes reforçam o documento.