Significados da escolha do secretário
Érico Firmo
Jornalista, editor-executivo do núcleo de Cotidiano do O POVO
A escolha de André Costa para secretário da Segurança Pública foi jogada política do governo Camilo Santana (PT), tanto para dentro como para fora. No intervalo de um mês, a medida tem sido até aqui extremamente bem-sucedida para os objetivos do governo. A escolha de um secretário jovem, que vai para a rua junto com os policiais sob seu comando e que faz discurso que agrada em cheio a categoria, estabelece contraponto em relação ao maior opositor do Governo do Estado. André Costa é contraponto em relação ao deputado estadual Capitão Wagner (PR).
Até agora, a categoria tem adorado o discurso. A ideia de escolher entre “Justiça e cemitério” caiu em cheio no gosto dos policiais. Há décadas e décadas um secretário não era tão aprovado pela categoria. Desde, sei lá, Moroni Torgan, no fim dos anos 80? André Costa conseguiu levar os policiais para o lado, se não do governo Camilo, para o da Secretaria da Segurança Pública. Em cinco anos desde que Capitão Wagner se projetou na primeira linha da política estadual, é a mais contundente resposta que Camilo consegue dar ao opositor. Desse ponto de vista, a estratégia é um sucesso.
Porque, até agora, Costa fala mais para dentro que para fora das forças de segurança. Agrada à categoria, está junto dela. Vai para a rua em operações. Segue lição de Alexandre, o grande: não pedir aos seus comandados nem mais nem menos do que o próprio líder faz. Ia para a linha de frente. Ficava com fome quando seus soldados não tinham o que comer. Passava sede com eles quando faltava água. É o estilo de Costa. Fala para o público interno, arregimenta a tropa, o que é algo muito importante.
Para fora, porém, para a população, não é isso que importa. Claro, é bom para o conjunto da sociedade que a Polícia esteja motivada e confie em seu comando. Todavia, o desejável num aparelho de segurança não é que o secretário precise ir para a rua combater a criminalidade. Da mesma forma que não se esperava que Cid Gomes (PDT), quando governador, mergulhasse num tanque para consertar adutora em Itapipoca. O que se espera é que as coisas funcionem de forma que os gestores não precisem se envolver diretamente na ponta das ações. Os papéis são outros. Claro, nada impede que o secretário esteja lado a lado com a tropa e viva o que os policiais vivem. Essa vivência acrescenta muito. Mas, não é o papel fundamental do secretário.
O coronel Francisco Bezerra, não custa lembrar, agia do mesmo jeito. O “pé de boi”, como Cid o apelidou, gostava de participar de operações. Porém, foi sob sua gestão que estourou a greve da Polícia, que a tropa saiu do comando, que os índices de homicídios se tornaram os piores da história. Não basta ir à rua em operações. Muito menos basta fazer discurso. O que irá determinar a relação do secretário com seus comandados serão as políticas para a categoria. No começo, o discurso foi o pior possível, do ponto de vista do interesse público.