Enquanto a política nacional volta suas atenções para a crise nacional, Roberto Cláudio (PDT) concluiu um de seus mais importantes movimentos políticos na busca da reeleição. O prefeito de Fortaleza mostra ser não apenas fiel aliado, mas também o mais aplicado aluno da escola Cid Gomes (PDT) de fazer política. A estratégia dos prefeitos consiste em, por um lado, realizar muitas obras e muitas ações para mostrar à opinião pública e fundamentar a imagem de realizador. Por isso, as inaugurações se tornaram uma constante na agenda do prefeito desde o ano passado. Por outro lado, o manual Cid Gomes para vencer eleições tem como pressuposto a formação de uma ampla base de apoio. Nesse quesito, Roberto Cláudio por enquanto deixa os potenciais adversários muito para trás.
E a oposição também já se move. Na noite de ontem, o deputado estadual Capitão Wagner (PR) se reuniu com o senador Tasso Jereissati (PSDB). Não há ainda previsão de anúncio oficial de aliança. Porém, o capitão já começou até entendimentos com setores técnicos tucanos para discutir programa de governo, em áreas como saúde e mobilidade urbana. Tasso já expressou visão particularmente crítica contra a gestão Roberto Cláudio na área de saúde. Esse deve ser talvez o foco central da campanha oposicionista. Hoje, um dos principais nomes do PSDB na Capital é Mayra Pinheiro, presidente do Sindicato dos Médicos e cotada como candidata a vice-prefeita.
No PSB, Heitor Férrer também procurou Tasso, enquanto o presidente estadual da legenda, Danilo Forte, negocia com siglas menores. Hoje, porém, o acordo entre o PSDB e o Capitão Wagner é praticamente certeza. O PMDB cogita possibilidade de lançar candidato. Se isso não ocorrer, a maior probabilidade é de apoiar Wagner.
O SUPERBLOCO DE ROBERTO CLÁUDIO
O que se viu na noite de sexta-feira foi provavelmente o maior deslocamento em bloco de vereadores da história da Capital. Foram 11 vereadores, saídos de nove diferentes partidos para o PDT. Muitas das legendas das quais eles saíram integram a base aliada. Mesmo assim, foram alvo do ataque especulativo da ofensiva governista, ou não estavam perto o bastante do poder, para o gosto dos parlamentares. Na linha de frente da articulação das migrações esteve o presidente da Câmara, Salmito Filho (PDT).
O resultado foi o surgimento da maior bancada parlamentar já vista em Fortaleza desde a redemocratização. Possivelmente, a maior da história. O PDT fica com 18 dos 43 vereadores. No auge do poder, em 1996, o PMDB da era Juraci Magalhães elegeu 12 deputados. Ao fim do mandato do então prefeito, eram 11.
O fim da era Juraci havia marcado o encerramento de um formato de composições na Câmara. Por uma década e meia, o PMDB reinou absoluto como maior força política na Capital, elegendo todos os presidentes da Câmara, enquanto Juraci e Antonio Cambraia se revezaram na Prefeitura. A partir da eleição de Luizianne Lins (PT), em 2004, a representação partidária se pulverizou. Em toda era Luizianne, o PT nunca teve uma super bancada. A condução da Câmara, em princípio, foi delegada ao PHS. E a hegemonia era construída com uma coalizão de micro legendas.
Enquanto partidos como PMDB e PSDB gradualmente minguavam, os pequenos faziam a festa. O número de legendas representadas cresceu – o que significou maior dificuldade nas negociações. Nas eleições realizadas após a primeira gestão de Luizianne, em 2008 e 2012, nenhum partido conseguiu eleger mais de quatro vereadores.
O megabloco de Roberto Cláudio marca uma guinada nessa lógica de funcionamento da Câmara. É, também, um grande trunfo eleitoral. Ao longo das gestões de Juraci, a ampla e capilarizada base de vereadores nos bairros foi um dos trunfos eleitorais cruciais. No poder, Luizianne também contou com esse apoio.
Ao filiar de uma vez só 11 vereadores e formar uma só bancada com 18 parlamentares, Roberto Cláudio faz uma jogada política de dimensão que nem Cid Gomes conseguiu quando governador. Os adversários precisam mesmo correr.