O plenário da Assembleia, ontem, ficou quase todo tempo assim: vazio. Um orador na tribuna e dois ou três outros deputados nos seus assentos. Foi difícil, no fim do expediente, conseguir votos para eleger o Conselho de Ética da Casa
( FOTO: KID JÚNIOR )
O deputado estadual Elmano Freitas (PT), em discurso na Assembleia Legislativa cearense, antes da votação na Câmara dos Deputados que não autorizaria o Supremo Tribunal Federal (STF) a processar o presidente Temer (PMDB), por crime de corrupção passiva, convocou os cearenses a assistirem a votação com caneta e papel na mão.
"Espero que o povo do Ceará acompanhe, com atenção, quais são os deputados e deputadas que quando estão no Interior dizem que são contra a corrupção, que são a favor de apurar tudo, doa a quem doer, e que quem for podre que se quebre, para saber como eles votaram. Vamos ver quais são os deputados federais do Ceará que têm coerência com o discurso que fazem", exclamou. "Espero que o povo não só olhe quem vota contra a investigação, mas anote o nome e lembre. Tenho certeza que serão cobrados no processo eleitoral de 2018", enfatizou.
Ele disse ser "impressionante" que parlamentares tenham ido ao microfone da Câmara no ano passado dizer que afastavam a presidente Dilma Rousseff porque havia corrupção no Brasil. "Foram às ruas dizer que lutavam contra a corrupção. Os mesmos, agora, não admitem que o presidente da República, flagrado em processos de corrupção, seja investigado pelo Supremo Tribunal Federal", apontou.
Outro parlamentar que levou o tema para a tribuna da Assembleia Legislativa foi Fernando Hugo (PP). Ele classificou o dia da votação de ontem como "histórico para o Brasil" diante do que acontecia em Brasília. "Indiscutivelmente, dar-se-á, a partir da abertura da sessão na Câmara Federal, um sim ou não, possibilitando ou não a que, pela primeira vez na história deste País tão sofrido, um presidente no exercício de seu cargo de chefe maior do Executivo brasileiro, esteja sob julgamento".
Reformas
Citando um texto de um dos "patrimônios do Direito cearense", Clodoaldo Pinto, o qual afirma que "o homem sem ser audacioso não vive", o deputado reforçou que aquele não seria um dia comum para a brasilidade, pois, para ele, o Governo Temer, administrativamente, é bom. "Pasmem, mas é bom. Pegou um defunto em estado necrosado e está tentando reavivá-lo, reacender a chama biológica da vida. Esse defunto se chama Brasil".
Ele disse achar até que Temer, constitucionalista e inteligentíssimo, teve audácia exagerada. "Quatro proposituras foram encaminhadas e efervescentemente mexeram com a brasilidade no sentido amplo, geral e restrito". A primeira foi a reforma do ensino médio. "Coisa secularmente discutida e nunca ninguém teve coragem de propor nos moldes em que foi feita". A segunda "audácia" que merece reflexão é a contenção de gastos.
As duas últimas são as reformas Trabalhista, já aprovada e sancionada, e da Previdência, ainda na Câmara. "Não quieto, ele apresentou as duas reformas mais sonhadas, esperadas por todo e qualquer empresário brasileiro, aquele que produz, seja micro, mini ou mega", apontou.
Silvana Oliveira (PMDB) ocupou o espaço para discordar de pontos colocados na sua fala. "Mesmo sendo do PMDB, único partido onde me filiei, não concordo com um presidente com esse grau de rejeição. Quem me colocou aqui votou em mim e preciso ter esse compromisso com a população que não está feliz com essas reformas", disse.
Ela concordou que as reformas são necessárias, mas não da forma como foram colocadas. "Será que a reforma que queremos deve ser apresentada assim como está sendo, a toque de caixa? Se alguém quer entra na história porque passou um ano e pouco na presidência e vai apresentar reformas, que apresentasse de forma heroica, que seja justa. Não assim".