Dono de uma maioria folgada na Câmara Municipal de Fortaleza, o prefeito Roberto Cláudio (PDT) passou a contar com novo bloco de oposição nos últimos dias. A reviravolta, no entanto, não parte do Legislativo municipal, hoje "pacificado" e com poucos críticos fora meia dúzia de vereadores.
Nascido do recente embate entre o prefeito e o senador Eunício Oliveira (MDB), na semana passada, o novo coro anti-RC parte sim da Assembleia Legislativa, onde eunicistas tomaram as dores do líder na disputa e voltaram a abrir fogo pesado contra o pedetista.
"Não foi em troca de apoio político e nem de conchavo. O senador sempre apoiou o Ceará e a Capital" disse, do plenário da Casa, o emedebista Leonardo Araújo. Ele respondia acusação da base do prefeito de que Eunício teria "barrado" financiamentos para Fortaleza como retaliação à sua derrota para Luís Eduardo Girão (Pros) na disputa pelo Senado, ocorrida muito em parte pela fraca votação do emedebista na Capital.
O troca-troca de acusações entre RC e Eunício ganhou holofotes, mas pouco se olhou para os impactos nas Casas Legislativas, alguns deles bem, digamos assim, acalorados. "O prefeito quer criar uma cortina de fumaça para esconder a incompetência da gestão", disparou Araújo. Além dele, pelo menos outros três deputados têm ligação próxima com o emedebista. Na Câmara Municipal, pelo menos Casimiro Neto (MDB) já saiu em defesa de Eunício.
A necessidade de eunicistas de olho na eleição acabou reaproximando Eunício de Camilo Mauri Melo
Nos últimos meses, a necessidade de eunicistas pela máquina estatal de olho na eleição acabou reaproximando Eunício de Camilo Santana (PT). O atrativo que pode ser oferecido por RC nesse sentido, no entanto, é bem menor. Lembrando que, em 2020, é o prefeito que terá que montar campanha para eleger o sucessor e que, até agora, emedebistas têm deixado claro que as rusgas não atingem o governador. "Quem acusa Eunício acusa também o governador Camilo Santana, já que ambos fizeram tudo em comum acordo", diz Araújo.
Deputados médicos comemoram saída de cubanos
Deputados estaduais do Ceará, que escolheram a medicina como carreira, comemoraram, em maior ou menor grau, saída de cerca de 450 médicos cubanos do Ceará, motivada pelo fim da parceria entre Brasil e Cuba no programa Mais Médicos. Ao longo da semana, foram muitos os ataques aos estrangeiros na Assembleia Legislativa, vários deles partindo de parlamentares colegas de profissão.
Uma das defensoras mais ferrenhas da saída dos cubanos foi Dra. Silvana (MDB), que condenou parceria com "a ditadura de Cuba" e classificou o programa como um esquema de desvio de dinheiro, chegando a negar até que a presença dos 450 médicos nos últimos anos tenha sido positiva para a população. "Receitar chá não minimizou o sofrimento do povo", disse a deputada. O disparate ganhou coro em diversos outros discursos, com Fernando Hugo (PP) classificando os profissionais cubanos de "escravos".
Membro da base do petista Camilo Santana, Lucílvio Girão (PP) parabenizou, por sua vez, o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) pelo fim da parceria com cubanos. Mais moderado, Heitor Férrer (SD) admitiu efeito prejudicial da saída dos cubanos "inicialmente", mas também fez coro com defensores de Jair Bolsonaro no caso. "Se você tirar oito mil médicos do Brasil, é claro que teremos perdas, mas vamos superar", disse, apontando "perigos" de não aplicar exame de revalidação de diplomas em profissionais médicos estrangeiros.
Vale destacar: Deixando o País nos últimos dias, os cerca de 450 médicos cubanos atendiam regiões remotas do Ceará, realizando apenas procedimentos de atendimento básico e acompanhamento da população. Os deputados deram os seus pareceres. Resta saber se os desassistidos pelo programa concordam.
CARLOS MAZZA