Alvo de acusações de aliados do prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio (PDT), o presidente do Senado Eunício Oliveira (MDB) contra-atacou ontem.
"Não julgo nem julgarei ninguém, mas não aceito que alguém transfira sua incompetência de gestão para alguém que só contribuiu com Fortaleza", disse o parlamentar. "Jamais farei vingança política, mesmo com os traidores."
Apontado como responsável pelo atraso na liberação de empréstimo de US$ 150 milhões para o município, o emedebista acrescentou que chegou a "correr atrás (do empréstimo), mas depois não tive mais notícias dele porque o prefeito não fala mais comigo desde 20 de julho".
Nesse dia, contou Eunício, "nós nos reunimos na casa do governador Camilo e fechamos um acordo sobre eleições, acordo de entendimento político".
O presidente do Senado então assegurou que essa foi "a última vez que o prefeito esteve comigo, quando ele disse que ia me apoiar (nas eleições) e depois fez um acordo paralelo com meus adversários".
Sobre o trâmite da operação de crédito no Parlamento, Eunício falou que "não tem informação" porque o prefeito não o atende mais. "Do dia 20 até agora, às 15h50min do dia 21 de novembro, ele não me atendeu mais e nem mais falou comigo. Muitas vezes cheguei a procurá-lo, e ele não me atendeu."
Questionado se teria atuado para bloquear o repasse depois de perder a eleição, o parlamentar negou. "Jamais faria isso. Não tenho idade pra mentir. Não traio, não minto e não retalio, porque acho que isso não é da política. Querer escamotear a verdade colocando a culpa no Congresso é falta de respeito", respondeu.
O processo de liberação dos recursos, contratados junto ao Banco Mundial e destinados a obras de preservação do meio ambiente em Fortaleza, já havia chegado ao Senado, última etapa antes da aprovação pelo governo. Sem razão aparente, todavia, o projeto voltou para a Casa Civil de Michel Temer (MDB).
Na última terça-feira, parlamentares da base de RC na Assembleia e na Câmara de Vereadores criticaram o senador. Para eles, Eunício teria barrado deliberadamente o dinheiro para retaliar o prefeito.
Terceiro colocado na disputa por duas das três vagas no Senado pelo Ceará, o emedebista não se reelegeu. Na Capital, ficou apenas em quarto lugar, atrás de Cid Gomes (PDT), Eduardo Girão (Pros) e Mayra Pinheiro (PSDB).
Eunício atribui a derrota ao prefeito. "O Ceará é detentor de um dos três poderes da República (o Legislativo, presidido pelo senador). Foi a traição do Roberto Cláudio que retirou esse poder que o estado tinha", avaliou.
"O ministro das Cidades está aqui na minha casa", continuou Eunício. "Nós estamos assinando mais 3,5 mil habitações em Fortaleza hoje. Isso tudo depois da traição e das eleições."
O emedebista declarou ainda que, todas as vezes em que RC o contatou, ele atendeu. "Liberei R$ 448 milhões pro município. Fui despachante da Prefeitura, inclusive para o custeio da saúde da Capital, com R$ 3 milhões para a Santa Casa, que eu não sei se ele repassou."
Procurada, a Prefeitura informou que não se pronunciaria sobre as críticas de Eunício Oliveira e que aguarda a aprovação do empréstimo de US$ 150 milhões, retido no governo.
HENRIQUE ARAÚJO