Os ex-governadores cearenses Ciro Gomes (PDT) e Tasso Jereissati (PSDB) participaram juntos de um evento realizado ontem (7) na Assembleia Legislativa, homenageando agentes políticos que participaram do processo de elaboração da Constituição do Ceará, em 1989. Na ocasião, Ciro, perguntado sobre o movimento de aproximação entre os dois, deu a entender que uma possibilidade de apoio político entre os dois fica em aberta: “[Nossa aproximação] não tem desdobramento nenhum político e eleitoral e, se tiver, não será nada mais do que natural, ao tempo próprio”.
Ele comentou, ainda, que não houve de fato uma reaproximação entre os dois. “As coisas da política nunca nos fizeram afastar pessoalmente, então não há uma reaproximação. Os caminhos da política nem sempre são aqueles que a gente prefere, e hoje tenho a alegria muito grande, que há muito tempo gostaria de poder de novo estar indo tomar café, conversar, ouvi-lo”, disse o pedetista, ressaltando que Tasso é “um dos maiores homens públicos do Brasil”.
Tasso, por sua vez, ressaltou sua amizade de “35 anos, 40 anos” com Ciro, rememorando a ocasião em que se conheceram, em um debate. “Ciro me chamou a atenção, à época era deputado [suplente], aí foi que ele me chamou a atenção e fiquei muito impressionado já com a inteligência dele, que hoje é de conhecimento nacional. E daí que nós começamos a nossa interação política.”
Os dois, que já foram aliados durante os anos 1990, tiveram um desencontro que provocou um racha na política cearense, que hoje encontra, nos grupos políticos dos dois, aqueles de mais força no cenário local. Em 2018, durante o período de campanha eleitoral – quando apoiavam candidatos concorrentes ao Governo do Estado –, Tasso disse que “o Ciro de hoje é muito diferente do Ciro de ontem” e que cada um traçou seu caminho, separadamente.
Em fevereiro deste ano, Ciro disse que foi convidado por Tasso para tomar um café e que se emocionou já na hora do convite. Segundo o pedetista, na ocasião ele encontrou “um velho amigo” e os dois tiveram uma “conversa de avôs”, mostrando fotos e falando sobre os netos.
Constituição
Na ocasião, uma cerimônia com roda de conversa, realizada na Assembleia Legislativa, honrava a atuação dos legisladores que participaram do processo de elaboração da Constituição do Ceará. Ciro Gomes destacou que o documento marca um momento importante para a democracia: “Refunde entre nós o conjunto democrática e a regra democrática e as franquias da democracia, especialmente a liberdade. Isso não é pouco importante, é muito importante.”
“Vocês [dirigindo-se aos repórteres] são de uma geração que já nasceu podendo se reunir, conversar, podendo discordar, podendo criticar, e não vão sofrer por isso tortura, exílio e morte, que já aconteceu a muitas pessoas”, diz ele, destacando o período da ditadura militar, anterior à Constituinte. Segundo ele, deve-se não só homenagear aqueles que no passado efetivaram essa conquista, como também preocupar-se em produzir um salto semelhante para os cidadãos mais jovens.
“É importante avaliar as coisas boas e redesenhar”, defende. Para Ciro, alguns pontos devem ser repensados, de modo a melhor obedecer a época atual. “Há uma insustentabilidade econômica. Ela anuncia, por exemplo, direito universal a saúde em qualquer nível de complexidade sem qualquer condicionante, e é um direito importante, mas não há recurso suficiente para garantir de forma direta isso”, menciona, como exemplo.
O presidente da Assembleia, deputado estadual José Sarto (PDT), falou sobre a importância de relembrar a elaboração do documento. “No momento que vivemos de, eu diria, incertezas, aqui e acolá talvez havendo um atentado às instituições democráticas, nada melhor e mais salutar do que celebrarmos o que reza a nossa carta maior, a Constituição Estadual”, declarou.
Previdência
Tasso, perguntado sobre a tramitação da reforma da Previdência, disse que “essa novela está na hora de acabar”. Ele, que espera que a votação em segundo turno possa ocorrer próxima semana, comenta que existe em todas as áreas uma expectativa muito grande sobre a aprovação do projeto. “Tenho repetido muito isso: a Previdência não vai resolver todos os problemas, mas ficarmos parados esperando o fim dessa novela é muito grave.