Integrantes da equipe econômica do Governo Federal têm dúvidas se o Congresso Nacional irá aprovar a segunda parte da reforma da Previdência, conhecida como PEC (Proposta de Emendas à Constituição) paralela, que reúne alterações defendidas por senadores na versão aprovada pela Câmara dos Deputados. A principal medida desse projeto é a possibilidade de que a restruturação nas regras de aposentadoria e pensões seja estendida a servidores estaduais e municipais.
A PEC cria um mecanismo para facilitar o ajuste nos gastos previdenciários de estados e municípios. Governadores e prefeitos poderiam aderir à reforma com o aval das Assembleias Legislativas por meio de uma lei ordinária, em vez de criar, discutir e aprovar uma proposta própria.
O time do ministro da Economia, Paulo Guedes, é favorável à inclusão de estados e municípios da reforma da Previdência, além de outros pontos da PEC paralela, mas, nos bastidores, a equipe tem se mostrado cética em relação às chances de o projeto avançar no Congresso.
O fatiamento da reforma da Previdência foi uma ideia do relator no Senado, Tasso Jereissati (PSDB-CE), com o argumento de que a cisão evitaria atrasos na votação na Casa. Na PEC principal, o senador fez apenas modificações que não obrigariam o projeto voltar à Câmara.
A inclusão de estados e municípios na reforma foi apresentada, originalmente, pelo presidente Bolsonaro, em fevereiro deste ano. A ideia foi derrubada na Câmara diante de fortes críticas do centrão – partidos independentes ao governo e que, juntos, representam a maioria dos deputados.
Líderes desse grupo continuam defendendo que a medida não deve ser aprovada no Congresso enquanto alguns governadores e prefeitos fazem campanha contra a reforma da Previdência.
Mesmo no Senado, onde o cenário é mais favorável a essa parte da PEC paralela, há dificuldades a serem enfrentadas. Maior bancada, o MDB questiona a proposta de Jereissati para que instituições filantrópicas passem a pagar gradualmente contribuição previdenciária. Santas Casas estariam poupadas dessa taxação.
“A questão das filantrópicas é um problema. Os senadores querem conversar sobre o aumento da tributação”, disse o líder do partido, senador Eduardo Braga (AM). O MDB, especialmente Braga, foi responsável por contratempos sofridos pela equipe econômica na votação da reforma da Previdência no Senado, até mesmo na decisão do plenário de rejeitar regras mais duras no abono salarial (espécie de 14º salário pago pelo governo a trabalhadores formais) defendidas por Guedes.
Tramitação
Os principais pilares da reformulação nas regras de aposentadorias e pensões já receberam o aval da Câmara em agosto deste ano. Essa parte da reforma foi aprovada, em primeiro turno, no plenário do Senado entre terça-feira (1º) e quarta (2). Desafios na articulação política do governo Jair Bolsonaro deixam incerto o cenário para o segundo turno de votação, que, inicialmente, se daria até o dia 15 de outubro.
Isso tem impacto também no andamento da PEC paralela, cujo cronograma de votação seria estabelecido na segunda semana de outubro. “Iríamos definir o calendário nesta semana, mas, como há uma possibilidade de atraso [no segundo turno da PEC] principal, não queremos contaminar, misturar as coisas”, disse a presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), senadora Simone Tebet (MDB-MS).
Os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), querem dar celeridade à proposta paralela, principalmente por defenderem que o ajuste nas regras de aposentadoria tem de ser para toda a federação, e não apenas para a União.
Estados e municípios também passam por crises fiscais, e um dos motivos para o rombo nas contas públicas é o descontrole nos gastos com Previdência. No entanto, o governo e a cúpula do Congresso Nacional precisam enfrentar a resistência de parlamentares em relação à PEC paralela, que ainda precisa do aval das duas Casas.