O deputado Manoel Santana diz que o PT deve fazer uma autocrítica e defende que os que usaram a política para enriquecer sejam punidos
( Foto: Thiago Gadelha )
Um dos principais entusiastas do PT no Ceará, o deputado estadual Manoel Santana diz que o partido está enfraquecido e "muito fragilizado" e admite que, além da necessidade de a agremiação rever sua política interna, é urgente que busque se reinventar. Petistas entrevistados pelo Diário do Nordeste demonstram preocupação, inclusive, com a possibilidade de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ser preso, em processo que passou para as mãos do juiz federal Sérgio Moro, em Curitiba.
No início de 2015, o governador Camilo Santana já defendia mudanças no PT, enfraquecido naquela época por conta ainda do "Mensalão", que havia acabado de condenar algumas ilustres figuras do partido, como o próprio José Dirceu, o outro ex-presidente da sigla, José Genoíno, e deputados federais.
Nas últimas semanas, os membros da legenda no Legislativo estadual, até tentaram, em seus pronunciamentos na tribuna da Assembleia Legislativa, desvincular a imagem do partido dos casos de irregularidades e corrupção em que a Operação Lava-Jato apontou o envolvimento de petistas. Hoje, estão presos um ex-presidente do PT, José Dirceu, e o ex-tesoureiro João Vaccari. Estes dados confirmam a necessidade de mudanças, já que não há dúvida do quanto o partido se prejudicou neste processo todo e de que terá dificuldades no pleito municipal deste ano, bem como na disputa eleitoral de 2018.
Impeachment
"O PT está enfraquecido", disse Santana ao Diário do Nordeste. Segundo ele, as pessoas têm feito confusão entre a força do partido e o chamado "movimento de vanguarda" contra o que petistas chamam de "golpe", em referência ao processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff, em curso no Senado Federal, após o pedido ter sua admissibilidade aprovada no Congresso Nacional.
"As pessoas dizem que isso representa o fortalecimento do PT, mas não é. O PT está muito fragilizado e precisa rever sua política, fazer uma autocrítica forte, ter uma comissão de ética que apure caso a caso e separe o que é perseguição política daqueles que se utilizaram da política para enriquecer. Esses devem ser punidos e expulsos do PT e da política", defendeu.
Em defesa da legenda, no entanto, o parlamentar destacou o caso do policial federal Newton Hideroni Ishii, o "Japonês da Federal", que foi recentemente condenado a quatro anos e dois meses de reclusão por facilitação de contrabando na fronteira do Brasil com o Paraguai, em Foz do Iguaçu. "Gente desonesta tem em todo canto. Aqui mesmo temos juízes afastados no Ceará. Essa falha de caráter tem que ser policiada e isso tem que se tornar insignificante até deixar de existir com um processo de reconhecimento do bem e dos valores éticos", ponderou.
Exageros
De acordo com Manoel Santana, o PT "tem gente que merece ser punida e ir para a cadeia", mas, em alguns casos, existem exageros, como no processo contra o ex-presidente Lula. "É diferente desse Eduardo Cunha que tem todas as provas cabais contra ele, tudo materializado". Para Moisés Braz, por outro lado, o PT sai fortalecido do processo de impeachment de Dilma Rousseff. "O PT tem várias correntes politicas e agora se unificou. Estamos preparados para 2016", disse o deputado.
No entanto, Moisés Braz afirmou que existem muitas dificuldades a serem enfrentadas pela legenda. Uma delas, segundo ele, é a punição para petistas envolvidos em irregularidades que ainda não foram punidos pela legenda. "Não podemos deixar o partido pagar por aqueles que cometeram irregularidades. Esses têm que ser investigados e punidos. Os dirigentes precisam ser mais rigorosos", defendeu.
Sobre o caso de Lula, o parlamentar disse esperar que não se politize o debate, mas não tem dúvidas da inocência do ex-presidente. Em caso de prisão de Lula, Moisés Braz afirmou que haveria uma comoção internacional, visto a importância do ex-gestor como liderança regional.
Falta de provas
A deputada estadual Rachel Marques, por sua vez, segue na mesma linha e diz que não há nenhum ilícito comprovado contra o ex-presidente. Segundo ela não há justificativa para uma prisão de Lula. "Ele estava dando todas as informações aos policiais quando sofreu aquela condução coercitiva. E naquele momento houve uma reação popular muito vigorosa. E hoje a população está muito alerta em caso de alguma injustiça cometida contra ele", disse.
Para Marques, com o processo de impeachment, a popularidade de Dilma e Lula aumentou, visto que a população tem acompanhado os fatos políticos. Segundo disse, o PT tem erros, mas nada que justifique o que estaria ocorrendo contra a legenda. "Existem muitos erros, mas o PT não está sendo afastado da Presidência por isso, e sim por seus acertos". Segundo a petista, todos seus correligionários que tiveram algum problema na Justiça comprovado foram afastados do PT e estão presos.