Rachel Marques avaliou que a atual legislatura da Câmara Federal não tem dado chances para pautas mais avançadas
FOTO: JOSÉ LEOMAR
As deputadas da Assembleia Legislativa do Ceará revelaram divergências sobre a proposta de cotas para parlamentares do sexo feminino no legislativo federal, conforme proposta na Reforma Política. A matéria votada na última terça-feira na Câmara Federal foi rejeitada pelos deputados, visto que só obteve 293 dos 308 votos necessários para a aprovação. Ao todo, 101 parlamentares foram contrários à proposta e 53 se abstiveram do voto.
O Diário do Nordeste conversou com cinco das sete parlamentares da bancada feminina na Assembleia Legislativa. Enquanto Silvana Oliveira (PMDB) e Fernanda Pessoa (PR) se disseram contrárias às cotas para as mulheres, Rachel Marques (PT), Augusta Brito (PCdoB) e Aderlânia Noronha (SD) lamentaram a derrubada da proposta.
"Eu sou contra cota. Não somente para mulheres. Enquanto necessitarmos de cota para estimular que as mulheres cheguem ao Parlamento, não teremos mandatos com maior legitimidade. Esse não é o caminho. Eu não comemoraria se entrasse na casa legislativa através da cota", declarou a deputada estadual Silvana Oliveira.
A peemedebista revelou que está tramitando na Assembleia uma proposta para que haja a participação de pelo menos uma mulher na Mesa Diretora e também fez críticas ao projeto. "Eu quero pertencer à Mesa não por causa de uma cota, mas porque represento bem o parlamento. Eu cheguei a esta Casa sem cota", justificou.
Perfil
Silvana Oliveira, que é membro da Frente Parlamentar em Defesa da Mulher, disse que não quis presidir o colegiado por não ter o perfil para representar a luta das mulheres, devido a convicções pessoais. "Eu represento bem uma mulher com o meu perfil no parlamento. Uma cota só iria me diminuir", apontou.
A deputada Fernanda Pessoa, apesar de ter dito que a derrubada da emenda na Câmara Federal reflete o lado machista dos parlamentos, também declarou ser contra proposta. "Eu sou contra cotas de maneira geral, pois a sociedade perde muito com essa questão de cota. Essa cota feminina faz parecer que a mulher não tem capacidade de chegar às casas legislativas, e eu acho que a mulher veio para somar, para pontuar", defendeu.
Mesmo se dizendo contra a matéria que foi apreciada na Câmara, Fernanda Pessoa defende a participação de uma mulher na Mesa Diretora, pois acredita que a Casa ainda é "machista". "Eu defendo por causa do machismo que temos hoje. Eles (deputados) são maioria aqui e são muito machistas, acho que porque têm origem no Interior".
Já Aderlânia Noronha revelou lamentar a derrubada da matéria. A parlamentar afirmou ser necessária a participação da mulher em mais espaços de poder. "Eu acho importante a participação da mulher, porque elas são mais sensíveis em muitas causas. Eu lamento não ter sido aprovado porque só assim a participação da mulher seria maior ainda", pontuou.
A deputada Rachel Marques disse que a atual legislatura da Câmara Federal é "retrógrada" e não tem dado chances para pautas mais avançadas, como a que garante a participação da s mulheres nesses espaços. "Eu defendo é algo para além da cota, como uma lista pré-ordenada partidárias com alternância de gênero nas assembleias", afirmou.
Augusta Brito também responsabilizou o machismo pela derrubada da proposta. "Eu vejo isso com muita tristeza, porque sabemos que a maior parte do eleitorado brasileiro é feminino. Eu defenderia algo maior que a cota, e essa votação nos deixa triste porque ainda existe a questão grande do machismo no Brasil", afirmou. Ela, ao contrário de Rachel Marques, afirmou ser muito difícil que a decisão em primeiro turno na Câmara seja revertida no Senado.