A deputada Silvana Oliveira disse que sofreu preconceito dos movimentos LGBT antes mesmo de assumir a Comissão de Direitos Humanos
FOTO: JOSÉ LEOMAR
Após a repercussão negativa da indicação da deputada Silvana Oliveira (PMDB) para assumir a presidência da comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa, vários parlamentares se solidarizaram com a colega, na manhã de ontem, destacando que ela teria sido vítima de preconceito dos setores sociais que protestaram contra sua indicação. Silvana, que já atuou na Casa quando era suplente, é evangélica e declarou ser contra casamento entre pessoas do mesmo sexo. A declaração foi objeto de repúdio de entidades ligadas ao movimento LGBT.
A parlamentar foi direcionada à presidência da comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento do Semiárido depois dos protestos, na tentativa de pacificar os ânimos. Apesar de ter admitido que ficou constrangida com a situação, afirmou entender a intenção da Mesa ao transferi-la e negou estar "magoada" com a decisão. "Não me sinto uma coitadinha, não. Fui convidada para a comissão do Meio Ambiente e aceitei", declarou.
Bullying
Silvana revelou na tribuna ter sido vítima de bullying na infância por ser evangélica e ter estudado em escola católica. "Eu me escondia na capela porque as crianças me tachavam (?). Até hoje sofro bullying. Na internet, só o que tem é apelido em meu nome por causa da minha aparência. Deixa para lá", lamentou. "Eu fui criada na 'peia' e aprendendo com a vida", disse.
Em apoio à colega, Tomaz Holanda (PPS) criticou a realização de um prejulgamento das posições da parlamentar por parte da sociedade. "A senhora se chama Silvana, e não Marco Feliciano, a prejulgaram sem ao menos a senhora ter assumido a comissão. Tenho certeza que iria conduzir muito bem", destacou o parlamentar.
No mesmo tom, Audic Mota (PMDB) garantiu o apoio do partido à peemedebista. "A senhora pode demonstrar como foi vítima de preconceito dos que se acusam de ser vítimas de preconceito", apontou.
Já o deputado João Jaime (DEM) ponderou que, quando chegou à Casa, os partidos de esquerda brigavam pela comissão de Direitos Humanos por fazer parte das bandeiras de seus mandatos, o que ele diz não ocorrer mais atualmente. "Mesmo com a saída de vossa excelência, não vimos nenhuma manifestação (de partidos de esquerda). Queriam tirar vossa excelência, mas não vi ninguém querer ocupar este espaço, porque é mais importante estar em uma de Saúde, de Orçamento", criticou.
"Aquele (deputado) Marco Feliciano, com quem não concordo em nada, só foi alçado (à presidência da comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, na legislatura passada) porque as esquerdas se omitiram também", acrescentou Jaime. Ele ainda apontou ser necessário que os parlamentares repudiem a maneira como anteciparam o que Silvana poderia fazer na comissão, numa tentativa de execrá-la, conforme afirmou.
Desrespeito
Carlos Matos (PSDB) avaliou ter sido um grande prejuízo para a Casa o fato de a parlamentar não ter assumido a comissão. "A senhora foi deposta da comissão, um desrespeito a todos nós parlamentares", criticou. O deputado também criticou a interferência que o ambiente externo pode exercer na Assembleia e afirmou esperar que o novo presidente da comissão de Direitos Humanos, o deputado Zé Ailton Brasil (PP), paute na comissão o preconceito àqueles que têm fé. "É uma comissão vazia se não respeitar os valores da vida".
Danniel Oliveira (PMDB) ainda lamentou a postura de um membro da Casa, em referência a Ivo Gomes (PROS), por ter "pregado a desunião" e ter sido "deselegante". Ivo, por meio da rede social Facebook, afirmou que Silvana é homofóbica e fundamentalista. "Se há algo a se estranhar são as frases ditas e o preconceito, de fato, não foi a senhora que exerceu", destacou o correligionário da deputada.
O vice-presidente Tin Gomes (PHS) esclareceu, do assento da presidência no plenário, que Silvana Oliveira não chegou a perder o posto, uma vez que a votação das comissões só deverá acontecer hoje. O parlamentar explicou que a Mesa Diretora tenta, há dez dias, atender democraticamente a todos os partidos e blocos partidários na composição das comissões técnicas e temáticas da Casa.
"É injusto dizer que a Mesa não teve altivez de colocar a Dra. Silvana na comissão como forma de não atender a outros anseios. À medida que estamos na Mesa estamos como mediadores", justificou. "Nunca a Mesa chegou a dizer que ela não seria mais indicada, mas o bom senso, a relevância e a democracia têm que prevalecer. Decidimos em conjunto que o melhor para a deputada, e não para a Casa, seria a transferência da indicação de Direitos Humanos para a de Meio Ambiente", apontou.
Tin Gomes fez questão de ressaltar que não há qualquer perseguição da direção da Casa à parlamentar. "Estamos dentro de um trabalho nessa Mesa para melhor servir aos deputados e à democracia, jamais iríamos contra a parlamentar", pontuou o vice-presidente do Legislativo.