Preocupado com a interlocução entre o Governo do Estado e o Governo Federal, Camilo Santana (PT) criou um cargo específico para facilitar o diálogo entre Ceará e Brasília. O assessor de assuntos federativos terá status de secretário, mas ficará vinculado à Casa Civil, pasta comandada por Élcio Batista. Ainda não há nome definido para o posto.
No primeiro mandato do governador, não havia um nome destacado para cumprir especificamente essa missão. Oficialmente, a função era do antigo secretário da Casa Civil, Nelson Martins, que cuidava de toda a articulação política do governo, mas na prática era o próprio Camilo, conjuntamente com o presidente do Senado Eunício Oliveira (MDB), que tratava dos interesses cearenses em Brasília.
Com a derrota de Eunício nas urnas, o governador fica sem um nome próximo ao Governo Federal. Correligionário do ex-presidente Michel Temer e presidente do Senado, o emedebista tinha papel fundamental para negociar liberação de recursos e colocar em pauta no Congresso Nacional projetos de interesse para o Estado.
"O assessor de assuntos federativos vai (a Brasília) em busca de maximizar os benefícios relacionados ao Estado do Ceará, estando atento a tudo que acontece nos ministérios para o repasse de recursos, para agilizar documentos que são necessários para encaminhar processos, para acompanhar a Câmara dos Deputados e o Senado", explicou Élcio. "Ele vai promover a cooperação entre o Governo do Estado e a União", resumiu.
Questionado se o nome para o cargo será escolhido levando em conta perfil ideológico ou proximidade com o novo presidente Jair Bolsonaro (PSL), Élcio não entrou em detalhes. "Vamos tratar do interesse do Estado. Eleição divide, mas para governar você precisa cooperar, construir consensos, realizar pactos. Nós ainda vamos avaliar perfis para escolher quem pode desempenhar a função com competência técnica e política", disse.
Não há prazo nem estimativa de quando o nome será indicado e tomará posse. Nos bastidores, a expectativa é de que o futuro secretário seja alguém com maior proximidade política de Bolsonaro. Uma possibilidade é que seja ligado ao MDB de Eunício. Sobre isso, o presidente estadual do PT, deputado estadual Moisés Braz, afirmou que a legenda "compreende que (Camilo) precise de alguém para defender os interesses do Estado junto ao Governo Federal", mas não será do PT.
"Nós do PT jamais pleitearíamos um cargo dessa natureza por conta da nossa posição de fazer oposição ao Governo Federal, mas compreendemos que alguém tem de cuidar disso", afirmou. Questionado se não haveria problema se essa pessoa fosse ligada a Bolsonaro, ele respondeu que "tem que ser uma pessoa que tenha tranquilidade de construir essa relação a nível estadual e federal".
Por outro lado, o deputado federal eleito Capitão Wagner (Pros), que faz oposição a Camilo e é da base do novo presidente, afirmou que cargo é desnecessário. "Há diversos parlamentares, inclusive da base do Camilo, que são próximos do Bolsonaro. A meu ver isso é desnecessário, é um cargo só para atender os 24 partidos da coligação dele", acusou.
A nível local, o governador é aliado de siglas como o PSD, MDB e DEM, que tendem a não assumir postura de oposição ao Governo Federal.
A reportagem entrou em contato com o deputado federal eleito do partido de Bolsonaro, Heitor Freire, mas ele disse que não daria entrevista porque está de férias.
NORDESTE
Pelo menos outros dois estados do Nordeste, além do Ceará, têm cargo de assessor específico para tratar da interlocução com Brasília. É o caso de Sergipe, do governador Belivaldo Chagas (PSD), e da Paraíba, governada por João Azevêdo (PSB).
MUDANÇA
Nelson Martins, ex-secretário da Casa Civil e atual assessor de interlocução política, lembra que fazia esse papel. "Agora não vou fazer mais porque vai ter um secretário em Brasília", disse.
LETÍCIA ALVES