Mirian Sobreira foi a primeira a tratar do assunto na Assembleia. Ela, assim como outros parlamentares, disse ter vergonha da votação de quarta
( Foto: José Leomar )
O resultado da votação na Câmara dos Deputados pelo arquivamento da denúncia criminal por corrupção passiva contra o presidente Michel Temer (PMDB) repercutiu ontem na Assembleia Legislativa. Três dos cinco parlamentares que usaram a tribuna do Plenário 13 de Maio no Primeiro Expediente lamentaram a decisão da maioria dos deputados federais. Na Câmara Municipal de Fortaleza, vereadores também criticaram o arquivamento da denúncia, afirmando que o resultado da votação foi contrário ao povo e às evidências apresentadas pelo Ministério Público Federal (MPF).
Na Assembleia, Mirian Sobreira (PDT) foi a primeira a se pronunciar. Ela afirmou que, de tão "vergonhosa" que foi a atuação dos deputados, sequer deveria ter sido exibida na televisão. "Quando pensávamos que teríamos um presidente investigado, vimos a Câmara votar a favor de Temer, mostrando o caminho que teremos daqui para frente. Mais direitos serão cassados".
Mirian também disse que, no atual cenário, lhe causa tristeza a apatia do povo brasileiro. "Mas acho que ele se prepara para dar o retorno na eleição de 2018", avaliou. "É muito importante que cada eleitor, que tem a força do voto, veja o que aconteceu e diga não aos deputados que votaram pela continuidade desse governo que aí está, sem aceitação da população brasileira".
A pedetista afirmou se sentir na obrigação de demarcar, na Casa, posição contrária à decisão da Câmara. "Não podemos fazer muita coisa em nível de Assembleia, mas podemos repudiar, dizer não a essa corrupção que acontece", apontou. "Se é inocente, por que não deixa ser investigado?", questionou.
Indignação
O deputado Renato Roseno (PSOL) subiu à tribuna afirmando que discursava com tristeza e "absoluta indignação". "É uma vergonha. Sem dúvida chegamos ao fundo do poço", analisou. "Com o voto de nove cearenses, a Câmara isentou Temer. Qual é o exemplo que se dá às atuais e futuras gerações quando o presidente da República é flagrado em cometimento de crime de corrupção passiva?". Ele lembrou que o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) ocorreu por suposto crime de responsabilidade. "Não era nem crime comum", comparou.
Roseno alertou que somente a mobilização social seria capaz de mudar o cenário em que se encontra o Brasil. "O sentimento das pessoas é de quase depressão coletiva. Somente a consciência auto-organizada pode devolver a esperança ao povo. Não há esperança no Congresso. A saída não vem do Planalto, mas da planície, vem de baixo".
Rachel Marques (PT) avaliou que a população ficou "estarrecida" ao ver a Câmara livrar Michel Temer da investigação por corrupção. "Só posso, nesse momento, lamentar que os deputados tenham formado uma barreira em torno do Temer em troca de cargos. Se livrou nesse primeiro momento, que terão outros, das investigações comprando deputados. Foram mais de R$ 4 bilhões em emendas seletivas, cargos. Isso é muito grave e não podemos deixar de expressar a nossa indignação".
A petista ressaltou, porém, que a base de apoio do presidente diminuiu. "Cresceu a oposição, que saiu com mais unidade desse processo. Essa base que apoia Temer não vai ter força para aprovara a reforma da Previdência", analisou. "Quando 80% da população brasileira queria que a denúncia fosse aceita, os deputados deram as costas para a população e compactuaram com o crime realizado pelo governo ilegítimo".
Legislativo municipal
Na Câmara Municipal, a vereadora Eliana Gomes (PCdoB) disse que os deputados federais que votaram a favor de Temer "foram eleitos pelo povo e votaram contra ele". Para a parlamentar, a manutenção de Temer à frente do Palácio do Planalto tende a agravar mazelas sociais no País. Ela pediu que a população vá às ruas contra os deputados que votaram a favor do peemedebista. "Vamos denunciar esses golpistas que caem de paraquedas nas comunidades para comprar a consciência do nosso povo".
O líder do PDT na Casa, Iraguassú Filho, também comentou a decisão. Ele classificou a postura dos deputados federais como "vergonhosa", que demonstra "o poder que a força do toma lá, dá cá". De acordo com o vereador, a Câmara Federal autorizou o presidente a cometer crimes no exercício do mandato.
A votação também foi lamentada pelo líder do PR na Câmara, Márcio Martins, para quem o resultado foi "um tapa na cara do povo brasileiro". Ele afirmou que o Congresso foi convertido em um "balcão de negócios". Eliana Gomes e Adail Jr. (PDT) parabenizaram o deputado federal Vitor Valim (PMDB) por ter votado a favor das investigações, enquanto Márcio Martins destacou que Cabo Sabino (PR) também adotou tal posicionamento, mesmo indo de encontro às orientações dos partidos.