Fernando Hugo (PP) solicita, em requerimento, votos de repúdio a Ricardo Barros
( Foto: Fabiane de Paula )
Declaração do ministro da Saúde, Ricardo Barros, de que os médicos precisam parar de fingir que trabalham, foi rechaçada ontem pelo deputado Fernando Hugo (PP) na Assembleia Legislativa. Em discurso, ele afirmou que a culpa pela crise na saúde pública não é dos profissionais, mas do pouco investimento feito pelo Governo Federal no Sistema Único de Saúde (SUS). O ministro fazia, na última quinta-feira (13), referência à adoção da biometria e de um padrão de produtividade dos profissionais nas unidades básicas de saúde.
A fala de Ricardo Barros, segundo Hugo, foi desprovida de qualquer sensibilidade para ocupar o maior cargo na saúde pública brasileira. "Eivado de uma forma mentecapta de falar, desconhecendo profundamente as nuances negativas que fazem o maior de todos os sistemas únicos de saúde do mundo, que é o nosso SUS, atendendo a uma população superior a 160 milhões de habitantes, ele, numa infelicidade extrema, abrindo o besteirol, disse que eram os médicos os culpados pelo SUS funcionar precariamente", lamentou.
Ressaltando não agir com corporativismo, Fernando Hugo, que é médico, disse que não protegeria a categoria se não estivesse certo do que falava. Ele defendeu que, antes de se posicionar, o ministro deveria ver a "atrocidade" que os governos federias têm feito no Brasil com o SUS. "Isso vindo de 15 a 20 anos para cá. É entristecedor sabermos que 36 mil leitos foram fechados pelo Sistema Único no País. Isso é coisa jamais aceita e vista. Se fecha leito dos convênios com a filantropia, com particulares, e leitos de convênios feitos com ONGs, assim também como dos estados e municípios", relatou.
Os repasses procedimentais do SUS, conforme Hugo, "envergonham" qualquer profissional da área médica, odontológica ou de enfermagem. "Nos envergonhamos de dizer que, como profissionais médicos, sujeitamo-nos a ganhar tão pouco, a trabalhar em hospitais ou postos de saúde no Brasil, e o ministro abre a boca e escancara, imputando aos profissionais de saúde a culpabilidade".
Providências
Segundo ele, o Conselho Federal de Medicina já tomou providências para fazer contatos com os conselhos regionais de medicina do Brasil e pressionar o presidente Michel Temer (PMDB) para que retire o ministro do governo. Em seguida, apontou que o fim do SUS chega pela forma "vergonhosa" com que são pagos os procedimentos.
"Como enfermeiras que lidam de forma elitista com a vida humana ganham R$ 120 para cirurgia de apêndice? Isso é uma vergonha. Se ganha pouco e recebe atrasado. O ministro, em estupidez amazônica, imputa à classe médica a culpabilidade pela falência do SUS", reclamou.
A fala teve o apoio de outro deputado médico. Leonardo Pinheiro (PP) avaliou que a situação não estaria pior porque estados como o Ceará abriram novos leitos, enquanto o SUS fechou. "A tabela de repasses não é atualizada há 20 anos, por isso muitos hospitais fecham as portas. Quantos mais vamos ter que ver nessa situação?", questionou.