Silvana Oliveira disse que denunciava a desumanidade de colegas de forma "triste e constrangida". Ela quer uma auditoria na Saúde
( Foto: José Leomar )
A deputada estadual Silvana Oliveira (PMDB) subiu à tribuna da Assembleia, ontem, para cobrar que médicos tenham mais sensibilidade no trato com pacientes que dependem da rede pública de saúde. Por também ser médica, ela disse que fazia o pronunciamento "triste e constrangida", acrescentando que, se não levasse a denúncia ao conhecimento público, não se sentiria parlamentar, médica e tampouco ser humano.
"Pelo tempo que tenho no exercício da medicina, tanto em clínica geral como em dermatologia, vi a medicina crescer, mas hoje sinto que andamos para trás. Dois depoimentos me fizeram chorar. Casos gravíssimos como um que está acontecendo em Barroquinha onde há, pelo menos, duas semanas uma idosa de 89 anos tenta fazer cirurgia após sofrer acidente e fraturar o fêmur", relatou.
A peemedebista citou outro caso que estaria acontecendo com um paciente com tumor intracraniano. "O que mostra que os médicos estão perdendo a sensibilidade. Paciente com tumor intracraniano chegou na UPA gemendo de dores, pedindo internamento paliativo para melhorar um pouco a sua dor, a pobre esposa disse que tudo o que queria era ir para o Hospital Fernandes Távora, mas a médica disse que não funcionaria assim, que havia muita gente na fila e que ela deveria levar o marido para casa, dar dipirona", falou.
"Com tumor na cabeça, dar dipirona? É demais! Onde estamos que não pedimos auditoria nessa Saúde? Tratamento do médico não pode ser assim! Precisa fiscalizar". Silvana ressaltou que o médico seria funcionário público e questionou onde estaria a ética profissional. "Não sou melhor nem pior que nenhum médico, mas temos que tratar a todos os pacientes, sejam terminais ou não, com dignidade".
Compaixão
"Chorei ao telefone com a esposa desse paciente. Ela disse que ele tem convulsões de dores, mas a médica disse que levasse para casa e só voltasse no HGF (Hospital Geral de Fortaleza) no dia da consulta", contou. "O paciente grita de dor. Está certo isso? Vamos nos silenciar como se estivesse tudo normal?".
O discurso de Silvana não foi aparteado por nenhum dos outros nove parlamentares que também são médicos. Renato Roseno (PSOL) afirmou que, ao ouvir os relatos, a palavra que estaria em sua mente seria "compaixão. "Porque significa sofrer junto, você emprestar, acima de tudo, a solidariedade. Quantos idosos e idosas passam por isso? Os direitos humanos nasceram no século XVIII, sobretudo, com a ideia de que existe algo que não pode ser tomado de uma pessoa, como a dignidade, vida sem violência, integridade física, a saúde, educação".
"Daqui da Casa temos de provocar o Tribunal de Contas do Estado porque a auditoria nos serviços do Estado não é só nas contas, no sentido contábil, mas na prestação adequada do serviço público. Está na lei orgânica do Tribunal de Contas e a lei permite que a fiscalização seja realizada".
Fernanda Pessoa (PR) informou que há duas semanas também tentava conseguir a cirurgia para a mesma paciente idosa. "Tenho o número da solicitação e a resposta diz que a solicitação aguarda agendamento. Ela grita de dor. Imaginemos quantas pessoas estão na mesma situação?", questionou.
Farmácias
O deputado Manoel Santana (PT), um dos médicos com mandato parlamentar, não opinou durante a fala de Silvana, mas na sequência subiu à tribuna para lamentar que no ano passado o Governo Federal tenha trabalhado de forma "violenta" para ver aprovado, pelo Congresso, o limite dos gastos públicos.
"Estávamos advertindo que isso teria repercussões muito desagradáveis em áreas como a Saúde, Educação e Assistência Social. É o que se comprova já neste ano e a tendência é que deve piorar ainda mais no próximo ano por conta da insana ação de Temer com o objetivo de tornar o Estado brasileiro cada vez mais prestador de serviço da iniciativa privada em detrimento do estado de bem-estar social e fortalecimento da saúde".
Santana apontou que entre as medidas adotadas com o corte de recursos a que mais incomodaria no momento seria o anúncio do fechamento das farmácias populares. "Quem é médico sabe da importância que é a adesão do paciente com doenças crônicas e graves à sua medicação. E muitos têm dificuldade de comprar com regularidade essa medicação. Às vezes, compra uma vez, deixa faltar a medicação, a doença se agrava e o paciente acaba sendo internado em estado ainda mais grave podendo até morrer", contou. "Muito disso pode ser evitado se o paciente fizer o tratamento de forma regular e continuada", enfatizou o parlamentar.