Criado com o objetivo de compreender o fenômeno da violência entre jovens, o Comitê Cearense pela Prevenção de Homicídios na Adolescência tem atuado em duas frentes principais: realizando audiências territoriais em bairros da Capital e através de pesquisa de campo para tentar elaborar um perfil de assassinatos desse setor da sociedade. De acordo com membros do colegiado, a idealização do grupo tem criado naqueles atingidos pela violência um sentimento de aproximação junto aos órgãos públicos do Estado.
O Comitê é iniciativa conjunta da Assembleia Legislativa, Governo do Estado e Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), e pretende elaborar propostas de políticas públicas que apontem para a prevenção e a redução de homicídios envolvendo adolescentes, como vítima e como autor.
A pesquisa está dividida de forma a contemplar quatro dimensões: a individual do adolescente, a familiar/afetiva, a comunitária e a institucional. Serão ouvidas famílias, instituições por onde o adolescente passou e os que cumprem medida de privação de liberdade por atentado à vida. O comitê tem se reunido todas as terças-feiras à tarde. Existe outra frente de pesquisa de campo, em busca de dados que ajudem a desvendar o aumento da violência neste setor da sociedade.
"Essa pesquisa servirá, principalmente, para vermos como está o sentimento das famílias desses jovens e sabermos por que ele foi vítima da violência", disse o presidente da comissão dos Direitos Humanos, Zé Ailton Brasil (PP), integrante do grupo. Além dele, fazem parte do colegiado o deputado Ivo Gomes (PDT), que preside o comitê, e as deputadas Augusta Brito (PCdoB), presidente da comissão da Juventude, e Bethrose (PMB), que preside a de Infância e Adolescência.
Audiências
De acordo com Zé Ailton Brasil, as audiências territoriais têm servido para avaliar a situação do ambiente onde esses jovens vitimados pela violência viveram. "Essas audiências têm sido altamente produtivas, tanto para os jovens quanto para as pessoas que fazem o trabalho de discussão do tema. Algumas pessoas relataram que não há espaços culturais e de lazer em seus bairros, o que torna os jovens alvo para o crime. Também podemos observar que tem havido um distanciamento do jovem com políticas públicas", declara.
De acordo com Zé Ailton, os membros do grupo têm sentido que a população percebeu que o poder público busca se aproximar das pessoas na tentativa de soluções para um problema que afeta toda a sociedade. O comitê tem o objetivo de mobilizar esforços e ampliar o conhecimento sobre várias situações determinantes em torno da violência com os jovens. Para isso, seus membros decidiram realizar algumas atividades, como elaborar pesquisa de campo sobre a situação do público-alvo, audiências públicas com a sociedade e concluir com um seminário em julho. Foram numerados grupos focais e levantamento de rede.
As audiências territoriais já ocorreram na Barra do Ceará e Vicente Pinzón e serão realizadas também no Jangurussu, em Fortaleza, além de Maracanaú, Juazeiro do Norte, Quixadá, Crateús, Russas e Sobral. "Estamos analisando a vida do indivíduo, convívio familiar e Estado. Essas pessoas são marcadas pelo abandono, ausência de políticas públicas e têm dinâmicas muito marcadas pela violência", diz o relator do grupo, Renato Roseno.
"Existe um processo de diálogo que precisa ser feito, e estamos dialogando com pessoas que passaram por uma situação grave. O que cabe a nós é acolher, escutar e, obviamente, buscar estabelecer recomendações que visam superar o luto enfrentado por elas", detalha.