Mesmo diante do cenário nebuloso em relação às eleições deste ano no Ceará, algumas lideranças do Partido dos Trabalhadores (PT) insistem em afirmar que a sigla caminha para um consenso. A tentativa é minimizar impasses cada vez mais difíceis de conciliar, como a inclinação do PROS e PMDB - ambos da base aliada da presidente Dilma Rousseff - em lançar candidato ao Governo do Estado. Enquanto aliados do deputado José Guimarães pleiteiam uma cadeira no Senado, lideranças ligadas à ex-prefeita Luizianne Lins defendem candidatura própria ao Executivo estadual.
Na última segunda-feira, o diretório estadual do PT divulgou uma resolução que define estratégias que devem guiar os filiados durante o pleito deste ano. A primeira delas é priorizar a reeleição à Presidência da República. Também fica decidido, de acordo com a nota, abrir debate interno e externo sobre a participação do PT na chapa majoritária, priorizando a indicação de candidato a senador.
Por sua vez, no dia seguinte, o deputado federal Eudes Xavier, da mesma tendência da ex-prefeita Luizianne Lins, enviou nota às redações adiantando um manifesto defendendo uma candidatura própria ao Governo Estadual. O abaixo assinado será lançada do Assembleia Legislativa nesta sexta-feira. Apoiam a carta, além da corrente Democracia Socialista, lideranças ligadas aos vereadores Guilherme Sampaio e Deodato Ramalho e ao senador José Pimentel.
José Guimarães afirma que, para reeleger a presidente Dilma Rousseff, a sigla está disposta a apoiar um candidato que não seja do PT ao Governo Estadual em prol do palanque nacional. Embora a possibilidade de ruptura entre PMDB e PROS esteja cada vez mais evidente, o deputado justifica que o PT não é empecilho para a candidatura ao Governo. "Já demonstramos interesse no Senado", detalha.
Cotado
De outro lado, contradizendo o discurso de consenso de Guimarães, o deputado federal Eudes Xavier afirma que o manifesto a ser lançado hoje simboliza uma parcela do partido que não está satisfeita com o apoio da sigla à gestão estadual e quer indicar candidato ao Governo. O nome mais cotado é o da ex-prefeita Luizianne Lins. "São setores que não concordam com a aliança com os Ferreira Gomes", disse.
Eudes Xavier justifica que, em outros estados, haverá mais de um palanque para a presidente Dilma Rousseff, a exemplo do Rio de Janeiro, onde o partido enfrentará o PMDB nas urnas. "Rui Falcão (presidente nacional do PT) esteve conosco no final de janeiro e nós expressamos nossa posição internamente na reunião do PT no Ceará. Creio que nós deveremos ter por parte do partido em nível nacional uma ponderação", ressalta.
Para o petista, não se pode usar o discurso de que o grupo de José Guimarães tem maioria no partido para dar o tema por encerrado. "Não podemos considerar apenas o resultado do PED (Processo de Eleições Diretas). Há também os militantes que não participam do processo, a base do PT é muito grande. Nós queremos participar com essa base", destaca.
Antítese
Já o presidente estadual do PT, Assis Diniz, simplifica a questão, ao citar a porcentagem da agremiação que apoia candidatura ao Senado em vez de pleitear o Governo. "A tese que defende isso (vaga no Senado) tem 86% dos votos. Ela é amplamente majoritária. Quem defende candidatura própria só tem 15%. O que marca o PT é o debate político, antítese, construção de teses". E completa: "A companheira Luizianne tem direito de pleitear, vamos debater e ao final tomar decisões".
Assis Diniz também garante que o PT não tem um plano B no Estado para a chapa majoritária e diz acreditar que os partidos aliados não colocarão impasses à indicação de um candidato petista ao Senado. "Com plano B você não constrói. Vamos trabalhar a tese do PT nacional, que defende que onde não se tem candidatura própria (ao Governo do Estado), deve-se ampliar a bancada de deputados e senadores", explica.
Um dos pontos que constam na resolução do partido alerta para a construção de um projeto político, econômico e social de desenvolvimento do Estado. Assis afirma que a proposta deverá ser anexada ao plano de ações do candidato ao Governo apoiado pelo partido e não significa a possibilidade de uma candidatura própria. "Vamos influenciar no próximo plano de Governo com essas teses".
Luizianne será homenageada
Um dia depois de a Justiça Eleitoral publicar a sentença que condenou a ex-prefeita Luizianne Lins (PT) por uso da máquina municipal "para desequilibrar a disputa eleitoral" em favor do ex-candidato à Prefeitura de Fortaleza, Elmano de Freitas em 2012, a Câmara Municipal aprovou a outorga da medalha Boticário Ferreira à ex-prefeita.
Durante a sessão, o vereador Ronivaldo Maia, autor da propositura de concessão da medalha, aproveitou o espaço para defender a ex-prefeita e classificar a decisão do TRE como resultado de perseguição política. Ele ainda disse estranhar que a decisão tenha sido divulgada no momento em que a ex-prefeita surge como possível pré-candidata ao Governo do Estado. "Não tenho dúvida de que houve perseguição política com a intenção de desgastar a imagem da prefeita Luizianne", acusou.
Ronivaldo Maia ainda questionou a decisão ao alegar que, em nenhum momento, a ex-prefeita foi chamada para prestar esclarecimentos e acredita que a situação será revertida em segunda instância. "Tentaram criar toda uma situação para acusar a prefeita de assédio moral, mas durante todo o processo, ela não foi chamada nem para se pronunciar. Apesar de tudo, nós estamos tranquilos e o PT continuará discutindo a possibilidade de uma candidatura própria", ressaltou.
O vereador Guilherme Sampaio (PT) também saiu em defesa da ex-prefeita ao avaliar que a decisão da Justiça Eleitoral foi tomada sem a existência de provas concretas. Ele foi uma das testemunhas de Luizianne no processo.
Durante a votação do requerimento de outorga da medalha, os vereadores Adail Júnior (PROS) e Joaquim Rocha (PV) também elogiaram a iniciativa do vereador Ronivaldo Maia em sugerir a entrega da medalha Boticário Ferreira à ex-prefeita, mas evitaram comentar a decisão do TRE.
Militantes
"Se a homenagem fosse feita quando ela estava à frente da Prefeitura, seria algo estranho, mas a homenagem agora é merecida", pontuou Adail Júnior, que apesar de fazer hoje parte da base aliada do prefeito Roberto Cláudio, trabalhou na campanha em apoio ao candidato Elmano de Freitas.
Já o vereador Deodato Ramalho (PT) não se posicionou sobre a condenação de Luizianne Lins, mas anunciou que o partido lançará, hoje, na Assembleia, um manifesto em defesa da candidatura própria do PT ao Governo do Estado. "O povo quer modificar essa situação em que nós encontramos", defendeu.
O pronunciamento do parlamentar acabou gerando a indignação de Adail Júnior, que fez críticas a posição adotada pelos petistas que defendem o rompimento com o governador Cid Gomes. "Eu teria vergonha em subir à tribuna e falar o que os petistas estão defendendo aqui. Não entra na minha cabeça ouvir os petistas dizerem que são contra o PROS e o governador Cid Gomes se os mesmos o apoiaram nas eleições passadas".
O vereador Guilherme Sampaio (PT) rebateu, no entanto, as críticas ao afirmar que vergonhoso era trocar de partido político em todo período eleitoral. "É a primeira vez que vejo alguém defendendo uma tese de que é vergonhoso querer a candidatura própria. O normal é que seus militantes defendam a candidatura própria. Na verdade, eu teria vergonha é de ficar trocando de partido em toda eleição".