Iniciativa, que objetiva fixar o homem no campo com qualidade, resgata a cidadania do homem rural
Fortaleza. Cerca de 70 mil pessoas já acessaram os serviços e formou-se um contingente de pelo menos 1.500 voluntários, atuando como professores ou facilitadores. Com esses números, o Projeto Casa Digital do Campo, desenvolvido especificamente para a zona rural, tem-se destacado no País como o pioneiro da metodologia baseada na educação para as comunidades de agricultores e pequenos produtores de atividades agrárias.
Em Mauriti, estudantes utilizam a internet para pesquisas escolares. Isso gera uma demanda diária de cerca de 25 pessoas por dia, sendo a maioria jovens, como Poliana Melo que ajuda no monitoramento e ensinamento das ferramentas do mundo digital
O ineditismo da iniciativa, que vem sendo desenvolvida desde 2009 pela Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA), é considerado como uma ferramenta importante para a inclusão digital. No entanto, esse objetivo tem ido mais além. Para a coordenadora Sandra Bandeira, é responsável também por favorecer a fixação do homem do campo, com dignidade e melhorias, oferecendo qualidade de vida no meio rural.
Por essas características, o Projeto Casa Digital do Campo/ Territórios Digitais classificou-se na terceira fase do Prêmio Ceará de Cidadania Eletrônica 2012. Foi inscrito na categoria Inclusão Digital e apresentado, ontem, no Auditório Deputado Joel Marques, no Complexo das Comissões Técnicas da Assembleia Legislativa do Ceará.
Mérito
O Prêmio Ceará de Cidadania Eletrônico é um evento na área de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC), que visa premiar projetos de Cidadania Eletrônica e reconhecer a qualidade e os benefícios advindos dos projetos públicos do Estado.
Para Sandra, esse mérito é atribuído à forma como foi concebido no Estado, com uma metodologia somente encontrada no Ceará, embora venha inspirando outras cidades brasileiras.
O projeto Casa Digital do Campo/Territórios Digitais é uma ação do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), em parceria com a Secretaria do Desenvolvimento Agrário do Ceará (SDA), e os Ministérios das Comunicações e da Ciência e Tecnologia. Desde a sua implantação, em 2009, o Ceará já investiu, através do Fundo Estadual de Combate à pobreza, cerca de R$ 3,5 milhões. Hoje, já funciona com uso de internet de banda larga em 40 localidades, de um total de 88 casas instaladas em áreas da zona rural e com o perfil de ter acesso difícil para a mobilidade humana.
Pesquisa
Engajada num primeiro momento como usuária, depois como professora voluntária, e hoje facilitadora de novas casas digitais, Maria Poliana de Melo, 18 anos, reconhece o valor intelectual que a iniciativa representa para a localidade do Sítio Soledade, em Mauriti.
Ela conta que a média de atendimento fica em torno de 25 a 30 pessoas, sendo a maioria interessada no uso da internet para pesquisas escolares. Ao todo, a comunidade dispõe de dez computadores, mais um servidor, além de impressora e a mobília.
Já no município de Mucambo, a experiência entusiasma João Evangelista Santana, 28 anos. Ele lembra que o interesse em aprender mais é bem aproveitado na Casa Digital, que consiste de dois compartimentos do prédio onde funciona o Centro de Artesanato.
"Há aqueles que gostam de acessar as redes sociais, mas orientamos no sentido de que façam o melhor uso possível, porque há uma demanda que não para de crescer", diz.
João explica que há um cuidado especial para que o serviço não seja desqualificado pelo uso de sites que instigam a violência ou que produzam material pornográfico. "Nós somos muito claros para não permitir esses desvios", salienta. Ele conta que há sempre um interesse crescente pelo uso dos computadores, principalmente entre os jovens. Na maioria dessas unidades, as casas são alugadas pelas prefeituras e os custos com energia e água são arcados pelas próprias comunidades. O trabalho é feito de forma voluntária, mas no caso dos facilitadores, o Estado paga uma bolsa, no sentido de motivar as pessoas a se constituírem em agentes multiplicadores na orientação e no monitoramento das casas. Em geral, o local tem gestão comunitária.
Para os que idealizaram e estão à frente do projeto, ganhar o prêmio Ceará de Cidadania Eletrônico será um coroamento de todo o trabalho já desenvolvido. No entanto, Sandra Bandeira, ressalta que muito se tem realizado no incentivo à cultura regional e na melhoria da vida, através das iniciativas. Nas unidades, também funcionam bibliotecas e salas de leitura.
De acordo com a coordenadora, já foram distribuídos 968 computadores nas comunidades rurais. O projeto realizou 176 cursos e capacitou mais de 3.500 moradores do campo. A meta é firmar novas parcerias, conectando 300 casas digitais.
Mais informações:
Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA)Av. Bezerra de Menezes, Nº 1820, São Gerardo - FortalezaTelefone: (085) 3101.8002
MARCUS PEIXOTOREPÓRTER