O deputado Odilon Aguiar foi um dos que reclamaram dos eleitores quanto à escolha dos candidatos, pedindo que o voto seja mais qualificado
( Foto: José Leomar )
O atual cenário político foi o assunto mais comentado nos pronunciamentos dos parlamentares, ontem, na Assembleia Legislativa do Ceará. Em discursos ou apartes, o que se viu foi a defesa de mudanças no sistema político-partidário, de modo a devolver a credibilidade da classe política, bem como a estabilidade econômica e social do País.
O primeiro a levar o assunto para a tribuna foi o deputado Ely Aguiar (PSDC). Durante mais de trinta minutos, usando seu tempo e o do deputado Audic Mota (PMDB), ele alertou que a população precisa acordar diante do que está sendo proposto pelo Congresso Nacional. "Querem fazer uma reforma política promovida e elaborada por corruptos que estão na Câmara Federal. Como aceitar a elaboração de leis feitas por delinquentes? Qual moral têm esses delinquentes?", questionou Ely.
Para o parlamentar, a solução poderia partir de uma reforma política, proposta "que vem se arrastando há muitos anos. Lembro bem que a ex-presidente Dilma no exercício de seu mandato defendeu um plebiscito por uma Constituinte Política, e conseguiu reunir governadores brasileiros, vários segmentos da sociedade, e debateu essa possibilidade de se fazer essa consulta popular para que fosse introduzido no Brasil esse projeto de reforma política", relatou.
"Mas as pressões foram tantas, principalmente do Congresso, que a ideia acabou indo para a gaveta", contou, usando do espaço para também criticar a proposta que ganha corpo no Congresso, prevendo o sistema de lista fechada nas próximas eleições. "Acho que a população precisa abrir o olho, porque se propõe o formato de lista fechada onde os partidos colocam 10, 20 ou 30 nomes, a população vota nessa lista e o mais votado acaba ficando pra trás", reclamou.
Reforma de pessoas
Em aparte, a deputada Silvana Oliveira (PMDB) ressaltou que há a necessidade de se fazer uma reforma de pessoas e não propriamente política. "Todo mundo fala da Lava-Jato, mas, e quem recebeu dinheiro para dar o voto não participou da corrupção? Acho que esse momento não é de reforma por quem está aqui, mas de pessoas", enfatizou.
Odilon Aguiar (PMB) avaliou que os brasileiros estão constrangidos e tristes diante do que assistem, mas seguiu a mesma linha de raciocínio da deputada peemedebista. "Vejo o País perdido, sem rumo e sem referência. Temos de renascer, mas também temos de ter coragem de falar que, diante dessa problemática, o eleitor tem que fazer autorreflexão", pregou. "Quem está se beneficiando da prática do Caixa 2 não é só o político. O eleitor também tem culpa e deve qualificar mais o seu voto ao selecionar os seus parlamentares. Muitas vezes o individual prevalece. É a realidade".
O orador seguinte, deputado Manoel Santana (PT), disse concordar com a essência do pensamento de Ely Aguiar e apontou que o plebiscito proposto por Dilma seria o caminho para superar a crise política. "Mas esse Congresso não tem legitimidade para fazer qualquer alteração na Constituição. É um Congresso corrompido, fruto de um processo de degeneração de um regime que ruiu e mostra a sua face agora", lamentou.
Ruiu
Roberto Mesquita (PSD) reforçou que o Brasil mantém um modelo político que ruiu, o que exige mudança. "A política precisa ser respeitada. Os que fazem a política e seus modelos merecem os reparos, mas a política é o instrumento mais fácil de modificar a vida das pessoas e precisa ser colocada em um altar". Diante de toda a turbulência, ele apontou algo positivo.
"O tumor suturou. O lado bom é que o que estava escondido apareceu. Nenhum de nós imaginava que o tamanho da chaga era esse. Que havia alguém que influenciava em lei, Medida Provisória, isso assusta", afirmou, fazendo referência às delações da Odebrecht.
O líder do Governo, deputado Evandro Leitão (PDT), apontou que o problema do sistema político se tornou sistêmico. "Você tem de um lado o eleitor, do outro os candidatos, que de alguma forma tentam aliciar o eleitor que, devido as suas condições, termina caindo no aliciamento". Para ele, o momento é de ruptura, de reiniciar e, para isso, só vê a educação como saída. "Você só transforma uma geração através da educação". Evandro ainda colocou que a Lava-Jato já atingiu o Executivo e o Legislativo, mas que falta atingir mais um poder. "Fatalmente, quando chegar nesse terceiro poder (o Judiciário), aí veremos uma hecatombe social em nosso País".