A ida de milhares de brasileiros as ruas, no último domingo (16), motivou e deu o tom do debate, ontem, na Assembleia Legislativa. O impeachment contra a presidente Dilma Rousseff foi questionado pelos pares, mas todos foram unânimes ao defenderem as manifestações e as classificaram como “legítimas”. A crise política, econômica, os pacotes de ajustes fiscais foram criticados pela oposição.
“É bom ver o Brasil vivo, ver que os desvios públicos geraram indignação, onde os cidadãos já conseguem gerar uma nova consciência política”, abriu a discussão na Casa, o deputado Carlos Matos (PSDB). De acordo com o tucano, a presidente Dilma Rousseff prometeu que jamais iria tirar o direito dos trabalhadores e, agora, está governando na contramão do que prometeu, em época de campanha eleitoral. “Nós, políticos, não podemos ser omissos”, criticou.
Conforme ainda o parlamentar, apesar da crise gerada no País, em função da descoberta de escândalos de corrupção como Mensalão e Lava Jato, defende que a presidente Dilma deve concluir o seu mandato. “Nós devemos ir às ruas para pedir honradez, para pedir o afastamento dessas pessoas, para que a sociedade volte a acreditar na política”, salientou.
O tucano ressaltou que há políticos que apoiam o Governo e são cúmplices, com o objetivo de defender o Partido dos Trabalhadores. “Sei que tem gente honrada no PT que, para salvar o partido, não fala, mas não podemos nos omitir. É preciso separar a verdade da mentira”, criticou.
Requerimento
Matos disse ainda que deverá entrar com requerimento na Casa, para que o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, esclareça a população, quanto a afirmação de que “a sociedade deveria ir às ruas entrincheirada, com armas na mão”, caso tentem derrubar a presidente Dilma. “Essa é uma confissão de erro e falta de legitimidade”, pontuou o parlamentar.
O deputado do partido Democratas, João Jaime, contestou a fala de Carlos Matos, e afirmou que não concorda que a presidente Dilma deva terminar o seu mandato. “O Governo afirmou que a crise não passaria do primeiro semestre deste ano. Segundo pesquisas, a crise permanece no segundo semestre do ano subsequente. Não dá mais para continuar com esse governo corrupto e estelionatário. É preciso haver uma solução”, afirmou.
Cidadã
Outra parlamentar a ir à tribuna e defender as manifestações, foi a deputada Aderlânia Noronha (SD), onde assegurou, que, no último domingo, também participou do ato, em Fortaleza. “Participei como cidadã insatisfeita pelo que vem acontecendo nos últimos anos no País e motivada pelo sentimento de que represento uma considerável parcela de pessoas do meu Estado. Fui às ruas, não por razões pessoais, mas pelo compromisso que assumi de representar os cidadãos mais carentes, que estão com suas garantias sociais ameaçadas pela atual má gestão da presidente Dilma”, salientou a deputada, ressaltando que votou tanto no ex-presidente Lula, como na presidente Dilma Rousseff. “Votei na Dilma, entretanto, comecei a perceber que as coisas não vão muito bem, volta da inflação, o desemprego já é realidade, eu não consigo perceber por parte do Governo Federal um ato de humildade, o que resulta em é um clima de crise, medo, insegurança”, pontuou.
Golpe
Já a deputada doutora Silvana (PMDB) defendeu que as mobilizações não são golpistas, e rechaçou que “golpe”, é não cumprir o que foi prometido. “Para mim, golpe é quando se promete e faz outra coisa. Eu acho que é legítimo a população pedir um impeachment, acho que ela não quer dar um golpe em ninguém. A sociedade é um golpe’, criticou.
Nota
Sobre o requerimento do deputado Carlos Matos, dirigido ao presidente da CUT, Vagner Freitas, o deputado Elmano Freitas (PT) leu na tribuna da Casa, nota de esclarecimento emitida pela própria CUT, onde aponta que é comum que as pessoas utilizem “retóricas” quando querem enfatizar uma situação. No caso, seria condenar qualquer pressão direcionada à presidente Dilma.