Segundo Roseno, foram dois atos de racismo no mesmo dia na Câmara Federal, às véspera do dia em que se destaca a memória da luta anti-racista, assim como o combate à discriminação racial.
O deputado federal Coronel Tadeu (PSL/SP) arrancou da parede e rasgou uma imagem do cartunista Carlos Latuff, em que mostra um policial, com uma arma fumegante na mão, e um rapaz negro estendido no chão, algemado, vestido em uma camisa do Brasil. No cartaz, a frase “genocídio da população negra”.
Na sequência, o deputado federal Daniel Silveira (PSL/RJ) foi à tribuna defender o colega de partido e questionar o genocídio negro no Brasil.
Para Renato Roseno, essa sucessão de acontecimentos foi “abjeta, vergonhosa, criminosa”. Segundo ele, a elite econômica e política do Brasil é racista e não suporta a denúncia da realidade.
“Esse episódio comprova a dívida gigantesca que o Brasil tem com os negros e negras, um verdadeiro atraso civilizatório, assim como atesta o perigo que passamos a correr ao ter entregue o País à direção desse grupo político que o governa, tanto que os dois parlamentares que protagonizaram esse momento são da base desse governo”, avaliou.
O parlamentar apresentou dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que apontam que, no Brasil, 75% das vítimas de assassinato são negros e que mais de 70% das mulheres encarceradas são negras.
Renato Roseno informou também que, apesar de dados apontarem que negros já serem maioria nas universidades públicas, aqueles que têm acesso a cursos tradicionais reconhecidos por direcionarem as melhores carreiras profissionais, como medicina, Direito, Engenharia, e Arquitetura, são majoritariamente brancos.
“O racismo já é uma condição arraigada à estrutura do ser social brasileiro. Esse perfilamento racial não é obra do acaso. É uma construção social histórica profunda. Temos que assumir essa constituição segregada e lutar por políticas afirmativas e equitativas em todos os setores da sociedade”, defendeu.
A deputada Augusta Brito (PCdoB), em aparte, considerou ainda que de 2003 a 2013, a violência contra a mulher negra aumentou, enquanto a violência contra a mulher branca diminuiu, e a violência contra as mulheres dos quilombolas aumentou em 350%. “Sabemos que 50% são agredidas e assassinadas por companheiros ou familiares, mas pelos números já percebemos que a questão não se resume à misoginia, mas inclui o racismo naturalizado pela nossa própria política”, disse.
O deputado Acrísio Sena (PT) afirmou que, não apenas como vítimas da violência, mas os negros também são maioria nos índices de pobreza extrema, de jovens que nem trabalham e nem estudam, entre outros. “Ainda estamos vivendo um momento sombrio em que a conjuntura política reacende de forma intensa o racismo e o preconceito entre as pessoas”, frisou.
PE/AT