Para Heitor Férrer, há no Brasil um oportunismo político que não é mais tolerado em protestos
( Foto: José Leomar )
Desde 2013, quando ocorreram manifestações que ficaram conhecidas como "Jornadas de Junho", a população brasileira tem realizado movimentos pelo País com o objetivo principal de melhorar a vida dos cidadãos. Um fator em comum a muitos protestos, desde então, é um grito popular contra a classe política, que teve tentativas de envolvimento prontamente rechaçadas por manifestantes.
No movimento paredista dos caminhoneiros em todo o Brasil, encerrado na semana passada após passar dos dez dias de paralisação, a máxima de manter políticos distantes das discussões se repetiu, e partidos que tentaram se aventurar entre os grevistas também foram criticados e repelidos.
Para deputados cearenses entrevistados pelo Diário do Nordeste, isso é reflexo de uma falta de crédito que parte da classe política tem tido ao longo dos anos com a população brasileira, que acaba por atingir até outras instituições.
O deputado Roberto Mesquita (PROS) destacou que tem faltado confiança nos parlamentares das câmaras municipais, assembleias legislativas e do Congresso Nacional. Isso, segundo ele, tem reflexos na desesperança que assola o povo brasileiro, que não se sente representado pelos políticos. "A pessoa pode ter defeitos, mas não pode ter desvio de caráter. A política é o maior instrumento que a sociedade tem para atingir seus alvos num espaço curto de tempo. É através da política que surgem as boas práticas", defendeu.
Oportunismo
O deputado Heitor Férrer (SD) disse que existe, no País, um oportunismo político que não é mais tolerável pelas manifestações populares. "O político não pode se aproveitar dos movimentos sociais de forma oportunista de quem tem mandato, porque a sociedade não vai mais aceitar", disse. Para ele, o parlamentar tem que fazer suas manifestações no ambiente que lhe serve, caso, por exemplo, das tribunas das casas legislativas.
Segundo Heitor, políticos ainda não se deram conta do momento que o Brasil vem vivendo desde as manifestações de 2013, o qual, inclusive, resultou em outros protestos, como aqueles que defendiam ou rejeitavam o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). "Os políticos não podem utilizar das reuniões de massa para tentar aparecer, porque se no mandato não têm correspondido, ao se envolverem nas manifestações populares serão rechaçados", disse.
Para Moisés Braz (PT), alguns movimentos são apartidários, mas outros não têm coragem de assumir as bandeiras, pois muitas vezes estão defendendo interesses de partidos políticos. Segundo ele, muitos políticos são repelidos de manifestações porque não assumem compromissos eleitorais quando chegam aos parlamentos ou ao Executivo. "Há, hoje, uma falta de credibilidade e de confiança nos mandatários. Claro que não são todos, mas boa parte da população não quer políticos participando de seus movimentos, porque vão apenas para se aproveitar".