A ausência de uma definição da Fundação Nacional do Índio (Funai) sobre a instalação da refinaria Premium II, e, mais recentemente, o corte de R$ 5 bilhões na área de refino por parte da Petrobras em seu plano de negócios (2012-2016), voltou a intranquilizar a população cearense acerca da vinda desse super-equipamento e de seus benefícios para a economia local.
O problema é o vasto histórico de postergações de prazos e indefinições. Conforme o Diário do Nordeste vem acompanhando, ainda em 2009, a projeção da estatal - presidida à época por Sérgio Gabrielli - era de encerrar as obras em 2013, com entrada em operação no ano seguinte. Esse cronograma foi alterado, com previsão de funcionamento em 2017. Quanto às obras, a expectativa de dar início ao processo de terraplenagem em 2012 já está ameaçada, mesmo restando aí pouco mais da metade do ano pela frente.
Outra notícia desalentadora para a população do Estado foi a de que a Premium II ainda estava classificada como projetos em "ação preparatória" no relatório do primeiro trimestre deste ano do Ministério do Planejamento. O montante de R$ 1,36 bilhões que deveria ser investidos até 2014 para a implantação da refinaria praticamente não saiu do papel. Isso poderá retardar também a aplicação dos restantes R$ 18,38 bilhões que viriam após 2014.
Governador garante
Em entrevista concedida, no último sábado, durante a Convenção da Câmara de Dirigentes Lojistas de Fortaleza, o governador Cid Gomes tratou de ratificar não só a vinda da Premium II como também o cumprimento de seu cronograma. "Em meu último encontro com a presidente da Petrobras, Graça Foster, discutimos o assunto. Já há licitação para cercamento da área, supressão vegetal. Além disso, está contratada a Universidade Federal para realizar o EIA/ Rima do projeto", confirmou aos jornalistas presentes, de forma tranquila, acrescentando ainda que existe um contrato com uma empresa americana para tocar o projeto da refinaria. Segundo ele, o único gargalo depende apenas do órgão responsável pela proteção do índio no Brasil. "Aguardamos a anuência da Funai para iniciar as obras", disse.
Trâmite lento
No mês passado, a Funai devolveu o Plano Básico Ambiental (PBA) à Petrobras, alegando que o relatório estava incompleto. O fato alongou ainda mais o tempo de espera pelas definições a respeito da refinaria, e tirou a paciência dos cearenses, que permanecem com uma incógnita em relação à instalação da Premium II no Estado.
Foi o caso da Assembleia Legislativa do Estado. "Não vamos pedir a nenhum representante da instituição que venha até a Assembleia, mas vamos até a Funai. Se necessário, iremos acampar para sair de lá com o papel", chegou a dizer o deputado estadual, Roberto Mesquita (PV), revoltado com a situação.
A Petrobras afirmou que atenderia o pedido da Funai, e que enviaria novamente o PBA, dessa vez, com as informações que faltavam para análise técnica do órgão. "Vamos cumprir o que é determinado", tinha dito o gerente de Estruturação do Negócio da Refinaria Premium II, Raimundo Lutif.
Outros estados do Nordeste podem ganhar com atrasos
Quem não sem lembra do destino que tomou o Estaleiro Promar Ceará? Após um período marcado pela indefinição entre o Governo do Estado e a Prefeitura de Fortaleza, o empreendimento desviou a rota e aportou no vizinho Pernambuco. Perder a refinaria, em termos econômicos, teria um impacto negativo infinitamente maior.
Todavia, simplesmente a demora para que esse mega-equipamento seja instalado no Ceará é motivo de grande preocupação para toda a cadeia produtiva, que, mesmo em fase de espera do início das obras, já começa a modificar a vida das pessoas da região do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp).
Concorrência
Na opinião do presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas Mecânicas e de Material Elétrico do Ceará (Simec), Ricard Pereira, o temor é que empresas deixem de vir para o Estado e procurem outras unidades Federativas. "Os atrasos prejudicam. O empresário vive do ´time´. Quando surge a ideia que vai haver um grande investimento, os que tem coragem de investir focam o radar para aquela região. São empresários do Sul, Sudeste e de fora do País. À medida que veem muitas dificuldades partem para outro lugar e levam vários outros junto. Pernambuco e Maranhão estão aí concorrendo com o Ceará. É preciso uma garantia para o investidor", explica Ricard.
Ímã de investimentos
Ele ressalta que a refinaria também é um instrumento de atração de novos projetos. "Quando se constrói um shopping, as lojas âncoras atraem as demais. É o mesmo com um centro industrial, existem as indústrias âncoras", exemplifica. Para ele, assim como a siderúrgica, a Premium II funciona como chamariz para fazer eclodir o setor de serviços, comércio, metalmecâmico, alimentação, metalúrgico, imobiliário, hoteleiro, e por aí vai.
"O pico das obras de implantação da refinaria deve absorver 14 mil trabalhadores. Só para ter uma ideia do impacto na economia que esse empreendimento vai proporcionar para um Estado emergente como o nosso, e que precisa desse investimento", comentou, defendendo mais união sobre o tema. "Não passa nem pela minha cabeça deglutir a ideia da refinaria não vir para o Ceará. É preciso unir forças. Esquecer a questão política como ocorreu no caso do estaleiro. O governador está empenhado e eu acredito que a Premium II será uma obra redentora para o Ceará", emendou.
ILO SANTIAGO JR.REPÓRTER