Eleição na Assembleia muda jogo político no Ceará
Há muito em jogo na eleição para a presidência da Assembleia Legislativa. A disputa entremeia o jogo político do Ceará. A depender do resultado, poderá haver impactantes fissuras na correlação de forças da política estadual. Pelo rumo dos acontecimentos, no mínimo o governismo sairá manco e terá que promover uma recomposição de forças para tocar sua hegemonia.
Como é peculiar às quedas de hegemonia, a mudança começa a se dar por dentro do grupo que está no poder. Sérgio Aguiar, um até então fiel servidor do cidismo, desafia o poder dos Ferreira Gomes se aliando aos opositores para conquistar a presidência do Legislativo.
É claro que há fatores em série empurrando-o para a condição de desafiador com chances reais. Um deles é a natural fadiga de material. Há muito tempo no poder, condicionando as decisões políticas ao interesse primário do grupo, efetivando escolhas com base quase que exclusivamente nas fidelidades pessoais, Cid e Ciro deixaram um rastro de mágoas e inimigos.
Aguiar, assim como os Gomes, membro de uma estrutura política familiar que já está em sua quinta ou sexta geração, pediu licença ao comando do grupo para articular sua candidatura. Recebeu aval e foi adiante. Quando quis fazer valer suas intenções na disputa, Cid recebeu a recusa do deputado em abandonar o jogo.
Ontem, nervosos bastidores falavam em uma disputa voto a voto. A notícia do rompimento entre o ex-presidente da Casa, Domingos Filho, e o grupo de Cid Gomes caiu como uma bomba. Veterano no negócio da política, com tradição também familiar, Domingos parece ter visto que era a hora de, mais uma vez, dar relevância a seu papel.
O imbróglio coincide com a eleição no Tribunal de Contas dos Municípios, a corte de contas subordinada à Assembleia, repleta de raposas políticas, que é presidida pelo ex-deputado e ex-presidente do Legislativo, Chico Aguiar. Nada mais, nada menos que o pai de Sérgio, o desafiante. E Domingos também é Aguiar. Também é Gomes.
Domingos Gomes de Aguiar Filho já foi o mais ferrenho e declarado dos cidistas. Foi, foi. Não é mais. Hoje, o conselheiro pode virar presidente do TCM em um suposto acerto com Aguiar, pai de Sérgio. O papel da corte define a “vida” e a “morte” de prefeitos e ex-prefeitos. Prefeitos e ex-prefeitos importam demais para os deputados, os eleitores na votação da Assembleia. E assim caminha a humanidade.
É claro que Zezinho Albuquerque, o presidente da Assembleia, é o favorito. Não seria uma surpresa se a disputa tiver amanhecido hoje favorável à sua pretensão de obter um inédito terceiro mandato seguido de presidente da gloriosa Casa legislativa. Afinal, na madrugada, os gatos todos ficam pardos, carentes e à espreita.
Porém, a fissura já se deu. No mínimo, a oposição ao cidismo ganhou fôlego e musculatura com o inesperado embate. É a dinâmica da política, diria Totó, o ex-governador que foi o primeiro a apoiar Tancredo.
O jogo será jogado no fim da manhã de hoje. Se tudo correr como planejado, o pleito começa às 11 horas. Cada candidato falará por 15 minutos e mais 10 minutos para um orador de cada chapa. Sendo empate, o que não é tão improvável, o mais velho (Zezinho) vai para o trono. Sendo assim, Serginho vai para a oposição?