O vice-líder do Governo, deputado Júlio César, disse que um paciente foi atendido no chão do IJF por emergência e justificou que foi um caso isolado
FOTO: JOSÉ LEOMAR
Após repercussão na imprensa local e nacional do caso de paciente atendido no chão do Instituto Dr. José Frota (IJF), a crise na saúde pública foi o tema predominante nos debates de ontem da Assembleia Legislativa e da Câmara Municipal de Fortaleza. Enquanto parlamentares da oposição destacaram a precariedade do atendimento e exigiram reação do Governo do Estado e da Prefeitura da Capital, governistas reconheceram a existência de problemas no setor, mas realçaram que o caso foi isolado.
Para o deputado Capitão Wagner (PR), a situação é inadmissível, de forma que, além de toda a falta de dignidade, o paciente poderia ter contraído outra enfermidade por ser atendido no chão. Danniel Oliveira (PMDB), por sua vez, avaliou que o cenário representa o retrato da saúde pública do Estado. "Se tivesse havido investimentos no Interior que tivessem tido resultados, não estaria nessa situação", criticou o parlamentar.
O deputado Agenor Neto (PMDB) apontou que a necessidade de investimentos em saúde foi invertida pela gestão anterior. "O Governo investiu nos hospitais polos, mas, antes disso, era para ter investido nos municípios abaixo de 30 mil habitantes. Consolidava a base nos municípios menores e, aí sim, investiria nos polos", ressaltou.
Destacando o estado dos equipamentos públicos de saúde, a deputada Fernanda Pessoa (PR) criticou corte do Governo do Estado de 20% das despesas da Pasta da Saúde. "É imprescindível que o Estado intensifique suas ações na ampliação das unidades, na ampliação de leitos".
A execução orçamentária da atual gestão em relação à saúde foi alvo de reclamações. "O Governo tem que investir, obrigatoriamente, pelo menos 12% do PIB no setor. O que nos preocupa é que, em quatro meses de governo, foram investidos apenas 8,63%", apontou Wagner.
Repasses
O deputado estadual Carlos Felipe (PCdoB) destacou que os repasses do Ministério da Saúde não são suficientes para o custeio do setor no Estado. Ele defendeu a criação de fundo único para a Saúde com vinculação com algum imposto. "Enquanto a Educação tem o Fundeb, que recebe arrecadação de imposto, a Saúde não tem. Quando o CPMF foi retirado, não foi criada outra alternativa", ponderou.
Na avaliação do parlamentar, a superlotação dos equipamentos públicos de saúde de Fortaleza e da Região Metropolitana só será resolvida quando os hospitais do Interior forem fortalecidos. "Só assim os pacientes de média complexidade deixarão de vir para Fortaleza, superlotando os hospitais de alta complexidade", explicou.
Em defesa, o deputado Júlio César (PTN), vice-líder do Governo na Casa, esclareceu que o homem atendido no chão do IJF tinha sido classificado como paciente de grau 1, que é o menos urgente, e enquanto aguardava, teria passado mal. "Na mesma hora em que ele caiu no chão, o paciente foi reanimado pelos profissionais e agora está internado. É claro que isso não justifica, mas foi uma emergência. Foi um fato isolado", reforçou.
Rachel Marques (PT) disse que a oposição tenta pregar o caos na saúde pública. "Não há caos na saúde, as instituições estão em pleno funcionamento. Não está faltando macas, o que vimos foi ampliação de leitos, ainda no governo Cid", relatou. Para ela, a superlotação é uma sazonalidade ocasionada pelo número de casos de dengue.
Já o líder do Governo na Casa, Evandro Leitão (PDT), justificou que a iniciativa privada também passa por dificuldades em relação à saúde. "Nos últimos 10 anos, foram fechados mais de mil leitos da iniciativa privada conveniadas com o SUS. Em contrapartida, o Estado construiu e entregou mil novos leitos. Como a população é crescente, essa conta não vai fechar", admitiu.
Problemas do SUS
O caso do paciente atendido no chão do IJF, noticiado na edição de ontem do Diário do Nordeste, também repercutiu entre os vereadores de Fortaleza. Para Acrísio Sena (PT), é preciso que a sociedade e o Parlamento debatam perspectivas para o Sistema Único de Saúde (SUS), pautando não só o financiamento de saúde e a gestão, mas as respostas para os problemas das redes secundárias e terciárias que concentram a atenção básica do município. "Se a atenção básica não atende à demanda, vai estourar nas outras áreas", disse.
O vereador Marcos Aurélio (PSC) ressaltou que os acidentes de moto no Estado são o maior gargalo do Instituto Dr. José Frota. "Enquanto não enxergamos de maneira mais dura o que esses acidentes estão causando, o IJF vai continuar um caos", defendeu. O líder do prefeito Roberto Cláudio na Casa, vereador Evaldo Lima (PCdoB), justificou que o caso do IJF foi isolado. Ele ainda questionou a veracidade das imagens divulgadas.