O número cada vez maior de lideranças políticas 'cruzando as fronteiras' das determinações dos partidos e apoiando candidatos de outras coligações não mais surpreende. De acordo com cientistas políticos ouvidos pelo Diário do Nordeste, a atitude de alguns em desobedecerem os arranjos apontados pelos diretórios é um dos reflexos da falta de identidade partidária.
Na avaliação de Valdemar Figueredo, professor de ciências políticas da ESPM Rio, esse comportamento é consequência do pragmatismo político, uma vez que os partidos e coligações estão voltados mais a interesses pontuais do que aos ideais que os unificam. "Os arranjos eleitorais são muito mais pragmáticos do que programáticos; (os objetivos são) muito mais para ganhar a eleição do que para fazer valer uma ideia", aponta o cientista.
Já para o professor Altemar Muniz, coordenador do mestrado em História da Universidade Estadual do Ceará (Uece), o cenário de troca-troca de apoios está mais relacionado à dependência da esfera local diante da esfera nacional, o que faz com que os partidos priorizem o cenário nacional ante o estadual nas articulações eleitorais. Ele atribui tal dependência tanto à fragilidade econômica do Estado, quanto à consequente fragilidade política.
"Isso está criando situações bastante curiosas, como gente que nunca apoiou o PT que está pedindo voto para (o candidato a governador) Camilo Santana (PT), embora haja a preocupação em não ligar o candidato ao partido", afirma Muniz, em referência à indicação do deputado estadual para concorrer ao Executivo estadual pela aliança do atual governador Cid Gomes.