Encontro do PSD, em junho, reuniu na Assembleia líderes de outros partidos, como PDT
Foto: Isanelle Nascimento
A eleição do prefeito de Tianguá, Dr. Luiz, e da prefeita de Irauçuba, Geraldina Braga, no último domingo (27), ambos do PSD, foi o primeiro resultado, nas urnas, de articulações do grupo político liderado pelo ex-vice-governador Domingos Filho, que comanda o partido no Ceará. Desde que assumiu a presidência estadual do PSD, o dirigente faz uma ofensiva sobre municípios cearenses, filiando novas lideranças políticas. Os movimentos visam às eleições de 2020, mas também geram desconfortos na base aliada do governador Camilo Santana (PT).
Isso porque a maioria dos gestores municipais cearenses que se filiaram ao PSD, neste ano, pertenciam ao MDB, comandado pelo ex-senador Eunício Oliveira, e ao Solidariedade (SD), presidido pelo deputado federal Genecias Noronha. Com as novas filiações, o partido de Domingos Filho passou a ter 25 prefeitos, mais que os 19 eleitos em 2016.
A ofensiva começou quando o ex-vice-governador, que é conselheiro em disponibilidade do Tribunal de Contas do Estado (TCE), assumiu a presidência do PSD no Ceará, neste ano, após conseguir na Justiça, em fevereiro, o direito de ocupar cargos públicos. Até então, o filho dele, deputado federal Domingos Neto, é quem comandava o partido no Estado.
Articulações
Com o bastão na mão, Domingos, ex-vice-governador do Estado, intensificou uma série de encontros com lideranças políticas. Como resultado, levou para o PSD o ex-deputado estadual Ely Aguiar, que estava filiado há 14 anos ao Democracia Cristã (DC), e o tornou o novo presidente municipal do partido em Fortaleza.
Domingos também filiou prefeitos de municípios importantes como o de Iguatu, Ednaldo Lavor, que era do PDT; o de Jijoca de Jericoacoara, Lindbergh Martins, ex-Solidariedade; o de Novo Oriente, Vanaldo Moura, que pertencia aos quadros do PCdoB; o prefeito de Cariús, Iran, eleito pelo PSDB, e o atual gestor de Caucaia, Naumi Amorim, que era do PMB.
Mas foi a filiação do prefeito de Pacatuba, Carlomano Marques, a que causou mais polêmica no cenário. Ele estava há mais de 30 anos no MDB. Além de Carlomano, outros quatro emedebistas também migraram para o PSD.
Para o deputado estadual Danniel Oliveira (MDB), o PSD faz uma "perseguição" aos partidos. Ele cobra gratidão ao MDB. "O nosso partido abriu mão de vários municípios para que votassem em deputados do PSD na eleição passada. Infelizmente, na política, existe memória curta de alguém que deveria ser agradecido. Não há necessidade de crescer derrubando um aliado. Nós todos participamos da base do governador, e isso não nos une", reclama.
O presidente do Solidariedade no Ceará, deputado federal Genecias Noronha, que perdeu quadros para o PSD, também alfineta. "Ele (Domingos Filho) está atacando a todos. Está no papel dele, de fortalecer o partido, desde que seja com conversas republicanas. Espero que não estejam vendendo terreno na lua para conseguir adesão de prefeitos ou lideranças".
Outro lado
Domingos Filho, no entanto, argumenta que se trata de uma "arrumação comum" que está ocorrendo entre os partidos com vistas às eleições de 2020. O dirigente relata, ainda, que muitas lideranças estariam se sentindo desassistidas quanto às demandas e esse sentimento contribui para a troca de legenda.
"Se não levam o prefeito ao ministro, se não acompanham para aprovar programas, para tirar restrições que causam a inadimplência das prefeituras... Tem que ter relação. Não adianta o partido querer sustentar uma liderança de qualquer forma se ela não se sente mais bem no partido, porque é estupro. Todos os que perdem ficam com dor de cotovelo", reage.
Além da estratégia de filiar novas lideranças, Domingos Filho também tem feito articulações com outros partidos nos municípios onde, segundo o dirigente, houve infidelidade partidária aos candidatos do PSD nas eleições de 2018. São eles: Granjeiro, Senador Sá, Martinópole, Chorozinho, Tabuleiro do Norte, Marco, Milhã e Potiretama.
Para tentar demonstrar a força do grupo político, o ex-vice-governador reuniu, no último mês de junho, o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, e lideranças estaduais do PDT, como o senador Cid Gomes e o prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio. No evento do partido, realizado na Assembleia Legislativa, eles sinalizaram uma possível aliança com o grupo governista para a sucessão municipal na capital cearense.
Por trás
Depois, em setembro, Kassab voltou ao Ceará, e participou de uma série de encontros do partido. Eles filiaram lideranças em diferentes municípios e trataram dos rumos do PSD nas eleições de 2020. Segundo Domingos Filho, o partido tem a meta de eleger 30 prefeitos, um aumento de 30% em relação aos eleitos em 2016. Quanto aos vereadores, o presidente estadual diz que o partido ainda está formatando chapa por chapa.
Nos bastidores, porém, parlamentares da base aliada apontam que as filiações "em massa" de lideranças políticas ao PSD estariam ocorrendo pelo fato de o deputado federal Domingos Neto, filho de Domingos Filho, ser o relator do Orçamento da União de 2020.
Esse posto, alegam alguns, daria a ele certo prestígio no Congresso Nacional para a busca por liberação de emendas parlamentares - pedidos de verbas federais para obras e projetos nos municípios - para os colégios eleitorais, nos quais aliados são votados. O deputado estadual Leonardo Araújo (MDB) foi um dos primeiros a acusar o grupo de Domingos de cooptar lideranças em troca de emendas.
"Ele está invadindo as bases, utilizando a força da máquina para poder fazer esse equacionamento. Ele tentou levar o vice-prefeito de Missão Velha, que é ligado a mim, tentou se aproximar do prefeito de Palmácia, mas não teve sucesso. Eu distribui inúmeros recursos pelo Estado, quando o Eunício era presidente (do Senado), mas nunca houve cooptação", reclama.
Domingos Neto nega o uso do posto nas articulações políticas. "Todos buscam um partido que ajuda a somar. Nunca vinculei (filiação) à questão de recurso, porque como relator vou proteger os interesses do Estado. Não acredito que tenha uma interdependência. Evidente que quando se busca (o PSD) é porque o partido tem uma força natural. Nosso partido é de centro e muitos dos novos filiados vieram de partidos de centro", justifica.
Municípios com prefeitos do PSD
Após novas filiações:
Caucaia
Itaitinga
Pacatuba
Acarape
Capistrano
Beberibe
Itaiçaba
Umari
Orós
Iguatu
Cariús
Barro
Jati
Nova Olinda
Araripe
Aiuaba
Assaré
Saboeiro
Massapê
Novo Oriente
Independência
Umirim
Irauçuba *
Tianguá *
Jijoca de Jericoacoara
* Já contabilizados pelo comando do partido, mas foram eleitos no último domingo (27), portanto ainda vão assumir os cargos