Sessão foi suspensa depois que deputada Dr. Silvana (PR) solicitou verificação da presença dos parlamentares: "A minha intenção é realmente atrasar a votação"
(Foto: Paulo Rocha/ (AL-CE))
Debate sobre moral, religiosidade e liberdade de expressão se levantou e se aqueceu na sessão desta quinta-feira, 29, na Assembleia Legislativa do Ceará (AL-CE). Promovendo a discussão no começo da tarde, o projeto que visa incluir a Parada pela Diversidade Sexual no calendário de eventos do Estado teve sua votação adiada. O motivo foi a falta de quórum parlamentar.
Sob autoria do deputado Elmano de Freitas (PT), o texto propõe “reconhecer” a data, que geralmente acontece no fim de junho, “reunindo anualmente cerca de um milhão de pessoas no Ceará”. “As Paradas pela Diversidade Sexual do Ceará representam a história de um movimento social que tem se transformado em uma das maiores manifestações culturais do Estado”, escreveu o petista.
De acordo com ele, o momento é utilizado como “instrumento mundial de empoderamento e de debate de tolerância social pelo fim do preconceito”. Por isso a importância de sua inserção nas festividades cearenses, defende.
O projeto, porém, foi duramente criticado pela deputada Dr. Silvana (PR) na sessão desta quinta. Na ocasião, ela disse que em seu entendimento a “Parada LGBT, infelizmente, se tornou um evento para atacar a fé e os símbolos considerados sagrados”. As falas agitaram os ânimos dos parlamentares presentes.
Segundo o deputado Queiroz Filho (PDT), “o mais importante” daquele momento era “falar sobre a pauta”. “Estamos apenas incluindo no calendário oficial para que as pessoas possam manifestar suas vontades e interesses”, disse. Em seguida, Acrísio Sena rebateu Silvana, citando que, se “excessos” são cometidos durante o evento, também o são dentro da religião.
“O problema é pegar uma coisa pontual e generalizar como se toda a Parada fosse aquilo (crítica às religiões). Têm excessos na Parada como existe na religião, pois é ou não é excesso um pastor chutar uma santa? É ou não excesso ter pedofilia dentro da igreja?”, questionou o petista.
Pedindo por mais um intervenção, Silvana, sentindo o plenário esvaziado, pediu pela verificação do quórum da Casa. Como foi constatada a ausência de deputados suficiente para votação, a discussão foi adiada.
“Intenção é realmente atrasar a votação”
Após o encerramento da discussão, Dr. Silvana concedeu entrevista ao O POVO Online, confessando: “A minha intenção é realmente atrasar a votação”. Segundo ela, o adiamento servirá para que a população passe a ter conhecimento sobre “o pensa cada deputado” quanto à essa questão. A deputada explica, no entanto, que não é contra a “parada em si”, mas contra “aquilo que o evento prega”.
“Tem gente que coloca crucifixo na bunda, rasga bíblia. A gente vê nudez de dia, atos libidinosos. E as crianças também veem tudo isso. Quem organiza deveria dizer que é contra essas coisas”, criticou. Tais atos, de acordo com Silvana, vêm acontecendo repetidas vezes. “Portanto, não tem meu apoio e não tem o perigo de eu deixar aquela votação acontecer sem ser nominal”, assegurou.
Disse ainda que acha que o texto de Elmano de Freitas deve ser aprovado, mas que a resistência feita até chegar à votação pode ser considerada como “um bom recado” para os organizadores. “Não sou contra as pessoas serem homossexuais, nem que elas façam movimentos ou demarquem território. Mas quero que a população saiba se seu deputado é a favor de um movimento que vai contra a fé”, declarou.
Repúdio ao chute na santa
Ao O POVO Online, Silvana disse reprovar atitudes de intolerância cometidas dentro da religião, em resposta à declaração de Acrísio Sena sobre um pastor ter chutou uma imagem de Nossa Senhora Aparecida, em 1995. “Na época, toda a comunidade evangélica repudiou aquilo”, asseverou, atestando: “A minha mãe só sabia assinar o próprio nome, mas sabia respeitar e me ensinou isso. Tolerância é respeitar um ao outro.”