Água, meu netinho!!!
Parece frase feita, antiga, do velho conto de fadas. É como se o Nordeste gritasse, pedindo socorro porque sofre do calor sem água e os netinhos respondessem ao apelo com o óleo quente, o azeite do desprezo, do nem te ligo. A transposição de águas do São Francisco para o Nordeste, pras bandas de cá, pra ser mais exato, desafia o tempo, as secas, os invernos. Desafia os caminhos tortuosos das vidas, como cantou o poeta Jader, desafia as Vidas Secas de Graciliano, desafia os Grandes Sertões, Veredas de Guimarães Rosa e até a Morte e Vida Severina do João Cabral de Melo, neto. Se todo animal inspira ternura, o que houve, então, com os homens? É preciso sofrer depois de ter sofrido, e amar, e mais amar, depois de ter amado. Assim Rosa trata a vida e o retrato num sussurro sem som onde a gente se lembra do que nunca soube. Vejo as águas rolando do Velho Chico, como Diodorim amava mas não podia amar porque não era de sua natureza amar um homem que ele não era, porque era. Hoje, Manelões da sabedoria cearense empapada de votos pra Assembleia do Estado vão ver, uma vez mais, onde está a água que vinha pra cá e ainda não chegou. Juro que se deixarem vou junto pra ver como fazer uma canoa, ou um barco, ou um navio ou um vapor e botar nas águas do canal e descer sem remar até em casa. Ou será que vou fazer como a Cecília, a Meireles que de tanto sofrer um dia disse…Pus o meu sonho num navio/ e o navio em cima do mar;/- depois, abri o mar com as mãos,/ para o meu sonho naufragar.