As facções, os deputados e o turbilhão
André Fernandes é o deputado estadual mais votado, mais jovem e o que mais tem feito barulho na atual legislatura da Assembleia Legislativa. Como a coluna apontou ontem, ele fez na quarta-feira a gravíssima denúncia de que há integrantes de facções entre os parlamentares. Como escrevi aqui ontem, o Poder Legislativo não podia ficar calado. Teria de dar alguma resposta: investigar, esclarecer, o que seja. A reação veio ontem em várias frentes: do PSDB ao PT, passando pelo pedetista Júlio César Filho, líder do governo Camilo Santana (PT).
O deputado Elmano de Freitas (PT) e a executiva do PSDB no Ceará anunciaram representações ao Conselho de Ética para que o parlamentar se explique. A sigla tucana informou que também provocará o Ministério Público Estadual sobre o assunto. Importante que isso seja feito. Afinal, não se deve descartar que, por vaga que tenha sido, a denúncia de André Fernandes lance luz sobre um grave escândalo dentro do Poder Legislativo.
Porém, caso tenha sido apenas bravata vazia e sem fundamento, falando por ouvir falar, aí o deputado presta desserviço.
Ele já entrou em atrito com os colegas, por motivo parecido. Se quer mesmo ser duro no exercício do mandato e denunciar desmandos, é bom que ele dê nome e sobrenome. Que apresente provas, indícios ao menos. Caso contrário, são apenas palavras vazias de quem quer passar por combativo, mas não está combatendo realmente coisa algumas.
A imunidade parlamentar, além do mais, garante a ele o direito de não ser processado judicialmente pelo que diz. Mas não assegura que será levado a sério no que diz.
A resposta de Fernandes
André Fernandes não estava ontem na Assembleia, quando os colegas reagiram ao discurso dele na véspera, mas foi às redes sociais e anunciou que hoje irá à tribuna se manifestar. Promete aumentar a temperatura.
"É crime agora falar a verdade?", ele indagou no Twitter.
Claro que não. Mas, denunciar de forma genérica abre margem para a injustiça e não contribui para resolver o problema.
Já no caso de a denúncia ser feita apenas de ouvir falar, configuraria papel incompatível com a postura que se espera de um representante eleito pelo povo - o mais votado do Ceará,aliás.
Fora da presidência
André Fernandes vive dias turbulentos. Ele deixou a presidência do PSL em Fortaleza. A decisão não tem a ver com a polêmica na Assembleia. Já estava acertada de antes.
À repórter Luana Barros, no Blog Política, ele foi duro sobre a legenda: "O PSL era para ser o melhor partido, mas tenho me decepcionado ultimamente". Decepção, segundo ele, com a atuação de parlamentares federais da sigla.
"São pessoas que antes se elegeram dizendo lutar por uma nova política, e hoje se mostram até piores do que velhos políticos".
Ele não citou diretamente, mas houve desencontros entre ele e o presidente estadual, Heitor Freire, que é deputado federal. Heitor controla a máquina, mas Fernandes tem mais votos. Além disso, o deputado estadual não escondia disposição de concorrer a prefeito de Fortaleza no ano que vem.
É turbulento o ambiente no partido de Jair Bolsonaro no Ceará.
ÉRICO FIRMO