O plenário da Assembleia Legislativa deve ser palco, hoje, de mobilizações contrárias ao projeto de lei 85/2019, do deputado Evandro Leitão (PDT), que regulamenta o comércio de bebidas alcoólicas nos estádios cearenses. O Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) e outras entidades da sociedade civil se mobilizam para tentar reverter clima favorável ao projeto na Casa.
Entre as presenças confirmadas no Legislativo, está a do coordenador do Núcleo do Desporto e Defesa do Torcedor do MPCE, Edvando França. "O Ministério Público entende que é necessário, por parte do Parlamento, prudência ao liberar as bebidas nos estádios justamente em uma época em que o torcedor já se adaptou ao não fornecimento de bebidas. Com essa liberação, a violência pode fugir do controle das autoridades", sustenta o promotor.
Entidades de combate e prevenção ao uso de drogas também são presença certa no Plenário 13 de Maio. Coordenador nacional do Movimento Brasil sem Drogas, Roberto Lasserre iniciou na última semana uma peregrinação nos gabinetes de parlamentares para tentar convencer indecisos e dissuadir favoráveis à aprovação. "Todo mundo sabe que o álcool está diretamente ligado à violência, e não só dentro do estádio. Mas e a violência no trânsito? E a violência doméstica?", argumenta o advogado.
O temor de ambos é que o PL seja apreciado no plenário a qualquer momento. O presidente da Casa, José Sarto (PDT), negou rumores de que a votação aconteceria já na sessão de hoje, embora não tenha dado previsão de colocar a matéria em pauta. Já o líder do Governo na Casa, Júlio César Filho (PDT), reafirmou que a votação fica para o próximo mês. "Ela foi aprovada em todas as comissões com o acordo de ter um tempo hábil para a discussão continuar, e o acordo foi que, na primeira semana de abril, já viesse para o plenário", diz o deputado. O Executivo, segundo ele, não terá qualquer ingerência no processo de votação.
Parlamentares
Ex-presidente do Ceará Sporting Club, Evandro Leitão defende que a venda de cerveja e chopp (segundo ele, as únicas bebidas que serão comercializadas na prática) trará rentabilidade aos clubes e também aos vendedores credenciados. "Tem a questão social que atinge diretamente a população, aquelas pessoas que fazem como um meio de gerar renda pra si", afirma.
A Federação Cearense de Futebol também se posicionou a favor da mudança. "Inúmeros estudos revelam um atlântico distanciamento entre a violência nos estádios e o consumo de álcool", disse o advogado Leandro Vasques, diretor jurídico da FCF.
Uma das deputadas críticas ao projeto é Augusta Brito (PCdoB), que teme o crescimento de episódios de violência doméstica. "É uma preocupação esse homem que está lá empolgado, que bebe, e quando chega em casa com certeza vai ter potencializado esse atrito que ele pode ter com a mulher", argumentou. Ex-presidente do Fortaleza Esporte Clube, Osmar Baquit (PDT) contestou a ideia, "totalmente absurda", segundo ele. "Se ele bebe e já é violento, ele vai beber em qualquer esquina, em qualquer boteco", retrucou.