A comemoração da Carta Magna, com os 135 anos da declaração da abolição da escravatura, realizada em 1884, foi destacada pela classe política cearense durante o dia de ontem. Lideranças apontaram o pioneirismo do Estado ao declarar a libertação dos escravos quatro anos antes da assinatura da Lei Áurea, tornando o Ceará a primeira província a decretar, oficialmente, o fim da escravidão no Brasil.
O governador Camilo Santana (PT) usou as redes sociais para homenagear a data. Ele compartilhou uma imagem do monumento em homenagem ao fim da escravidão, localizado no município de Redenção, interior do Ceará, e ressaltou o “orgulho” de ser cearense.
“Neste 25 de março, celebramos a nossa Data Magna, que marca o fim da escravidão no Ceará, ocorrida em 1884, quatro anos antes do restante do país. Por isso somos, com orgulho, a Terra da Luz. Terra da Luta, do respeito e da liberdade. Terra de Dragão do Mar”, destacou o Chefe do Executivo.
Também através das redes sociais, o senador Tasso Jereissati (PSDB) comemorou a data com ênfase ao pioneirismo do Ceará na luta contra a escravatura. “Liberdade é o que celebramos hoje! Foi em 1884 que o município de Redenção, no nosso Ceará, se tornou o pioneiro do movimento abolicionista no Brasil, quatro anos antes do fim da escravidão no restante do país”, escreveu o senador tucano.
Luiz Eduardo Girão, senador do Podemos, ressaltou o orgulho diante da resistência do Ceará contra a escravidão. “Fruto de força e uma resistência histórica, o Ceará assinava quatro anos antes do Brasil, a Lei de Abolição da Escravatura. Acarape, hoje município de Redenção, libertou cerca de 100 escravos antes mesmo da Lei ser sancionada no Estado. Por isso, nosso povo guarda com orgulho essa história: Data Magna do Ceará”, destacou o senador.
Já para o deputado estadual Heitor Férrer (Solidariedade), a data comemorada, ontem, reforça a necessidade de reflexão sobre os dias atuais. “Ceará, terra da luz! A data de hoje nos enche de orgulho pelo pioneirismo do nosso Estado na luta contra a escravidão. Mas que esse dia venha reforçar também a importância de continuarmos lutando para libertar nosso povo das misérias que ainda assolam o Ceará. Quando temos quatro milhões de cearenses (44,7% da população) vivendo em situação de pobreza, podemos dizer que no Ceará ainda se vive numa escravidão social”, disse o parlamentar.
O vereador Sargento Reginauro (sem partido), salientou que o Ceará é referência na discussão sobre a abolição dos escravos e que o povo possui um sentimento libertário que deve ser valorizado. “Nós precisamos continuar valorizando essa luta, esse resgate de que nós não aceitaremos nem aquela escravidão, nem as amarras do sistema que até hoje ainda tem promovido tanta segregação social dentro da nossa Cidade e do Ceará”, observou o vereador.
Evaldo Lima (PCdoB), vereador e professor de história, validou o protagonismo do Ceará na libertação dos escravos, evidenciando que a luta pela liberdade permanece a cada dia. “O Ceará foi a primeira província do Brasil a abolir a escravatura. Por essa razão, foi chamada pelo José do Patrocínio de a Terra da Luz. São muitos os nomes que lutaram pela liberdade e quero destacar, aqui, o Dragão do Mar, o bravo jangadeiro, Xico da Matilde, o Francisco José do Nascimento. A luta pela liberdade não cessa naquele 25 de março de 1984, a gente continua lutando por direitos, por democracia, por mais oportunidades para nossa gente”, pondera o parlamentar.
Feriado
Há oito anos, por meio de Emenda Constitucional, proposto pelo então deputado estadual Lula Morais (PCdoB), o Ceará determinou feriado estadual o dia 25 de Março, em alusão à abolição da escravatura (1884), estabelecendo o dia como Data Magna do Ceará. A iniciativa é reconhecida como um marco, já que paralisa as atividades do Estado em nome desse momento. “É uma data a ser comemorada porque é um marco de libertação do povo negro da escravidão e subjugação nas quais viviam”, disse a vereadora Larissa Gaspar (PPL).
Apesar de reconhecer a data como significativa, a presidente da Comissão de Direitos Humanos do Legislativo Municipal, enfatizou que a abolição foi inconclusa, porque embora tenham quebrado as correntes de ferro que prendiam o povo negro, não quebraram as desigualdades sob as quais viviam e continuam vivendo.
“O povo negro é minoria dentro das universidades, nos postos de trabalho com melhores salários, é a população que mais morre e a que está mais presente em profissões precárias. A cada 23 minutos um jovem negro é assassinato no nosso país e a maioria da população encarcerada é negra. No que se refere às mulheres negras, elas são a maioria das vítimas de violência doméstica e de feminicídio. Recebem salários inferiores aos das mulheres brancas e ocupam as profissões mais precárias. Infelizmente o racismo existe e por isso a gente precisa de políticas públicas que venham erradicar as desigualdades que o povo negro ainda vivencia. Precisamos de políticas afirmativas que corrijam as situações de exclusões sociais, econômicas e culturais e garantir uma vida digna à população negra”, ressaltou Larissa.
Curiosidade
Ainda que a data oficial seja 25 de março de 1884, alguns historiadores consideram que o evento ocorreu no dia 1º de janeiro de 1883, em frente à igreja Matriz, na Vila do Acarape, atual município de Redenção, em um ato marcado pela entrega das cartas de alforria às 116 pessoas escravizadas ali existentes, na presença de José do Patrocínio e de outros abolicionistas.