As mulheres representam 52% do eleitorado brasileiro, mas ocupam só cerca de 15% dos cargos eletivos no Congresso, assembleias e governos. Um dos motivos para a disparidade é o volume de candidatas. Nas últimas eleições, elas eram cerca de 32% dos postulantes, segundo o Tribunal Superior Eleitoral. Muitos desses registros, no entanto, sequer estavam aptos, sem falar nas denúncias de candidatas laranjas.
De acordo com o doutor em demografia da Escola Nacional de Ciências Estatísticas, José Eustáquio Diniz, as eleições de 2018 foram um enorme salto rumo à paridade entre homens e mulheres na Câmara. "Se consideramos as últimas cinco eleições para a Câmara, o avanço foi muito pequeno (de 1,365% a cada legislatura). Assim, considerando o ritmo de avanço das mulheres de 2003 a 2019, seriam necessários 103 anos para se atingir a paridade (50/50). Mas se considerarmos somente as eleições de 2014 e 2018 o avanço foi grande (de 5,1%). Neste caso, seriam necessários 'somente' 28 anos".
Embora haja conquistas, elas nem sempre se mantêm. Em 2006, três mulheres foram eleitas governadoras. Em 2010, uma assumiu pela primeira vez a presidência da República. No ano passado, somente a petista Fátima Bezerra conseguiu se eleger governadora no Rio Grande do Norte.
Fortaleza, que já elegeu a primeira mulher prefeita de uma capital (Maria Luiza Fontenele, em 1985), também sofreu baixas em 2016. Somente seis mulheres foram eleitas vereadoras, contra sete no pleito anterior. Segundo Eustáquio Diniz, levaria mais de 600 anos para que mulheres e homens ocupem igual quantidade de assentos em câmaras municipais no País. A queda no número de prefeitas foi nacional, informou o TSE. Em mais de 5 mil municípios, só 641 são chefiados por mulheres.
Após as dificuldades para se candidatar, ser escolhida pelo partido, se eleger, elas ainda enfrentam desafios no exercício dos mandatos. Única deputada da bancada cearense em Brasília, Luizianne Lins (PT) diz que a maternidade e obrigações extras dificultam a participação da mulher na política. Ela relata ter sofrido episódios de machismo em sua carreira política, iniciada em 1996.
"Teve os oito anos como prefeita de Fortaleza. Ao invés da crítica ser objetiva ao seu trabalho, passa a ser à sua vida, à esfera privada e a você como ser humano. (...) Eu, uma mulher, nordestina, jovem, atrevida e loira, que tem um preconceito a mais, tendo que comandar e os homens se subordinarem. As críticas, se fosse homem, seriam de outra ordem", afirma.
De corrente política oposta, de viés antifeminista, a deputada estadual no Ceará, Dra. Silvana (PR), diz que também defende o interesse das mulheres no Legislativo. "Eu desejo lutar pela manutenção da diferença de idade para aposentadoria: somos biologicamente mais frágeis. Estou levantando a bandeira para modificarmos o entendimento que mulher deve apanhar, que isso é cultura machista. Não é cultura, é crime. O cristianismo não alimenta o machismo, Jesus revolucionou sua época dando valor às mulheres", aponta.
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