O governador Camilo Santana declarou, na manhã de ontem (5), que o Ministério da Justiça e Segurança Pública aprovou a permanência dos profissionais da Força Nacional no Estado do Ceará por mais 30 dias – conforme, segundo ele, informações passadas de modo “extraoficial”. Com isso, os 406 agentes que chegaram pouco após o início dos ataques, em Janeiro, devem permanecer até o início do mês de março.
Segundo Camilo, essa não era a vontade do ministro Sérgio Moro, que considerou que a operação deveria ser dada por encerrada. “O ministro acha que a situação já foi resolvida, mas coloquei a necessidade de precaução, ou seja, estamos continuando fazendo o trabalho que precisa ser feito nas unidades prisionais, por precaução, para evitar qualquer tipo de incidente”, disse o governador em conversa com a imprensa, ontem, na Assembleia Legislativa.
A confirmação da permanência dos agentes contraria informação do secretário nacional da Segurança Pública, general Guilherme Theophilo, que disse que a Força Nacional começará a deixar o Ceará esta semana, com a desmobilização sendo “progressiva” ao longo dos dias que se seguirão. Segundo o secretário – que disputou contra Camilo na eleição ao Governo do Estado em 2018 e ficou em segundo lugar –, a operação das forças nacionais de segurança no Estado foi bem sucedida, mesmo “sem grandes números de apreensão” para apresentar, uma vez que contribuiu para reduzir o número de ocorrências dos ataques.
Camilo falou, também, sobre a solicitação de envio de mais agentes penitenciários para atuar nas unidades prisionais do Estado, feita também a Moro. “Temos 55 que não são federais, são de outros estados e vêm através do Depen [Departamento Penitenciário Nacional], mas tínhamos solicitado mais 90 porque não são quaisquer agentes, são já qualificados, preparados e treinados”, pontuou, dizendo ainda que, quanto mais agentes desse nível forem deslocados para o Ceará, mais rápido poderá ser normalizada a situação. Com isso, seria possível também acelerar o processo de treinamento e capacitação dos novos agentes contratados pelo Estado.
Transferências
Sobre transferências de presos do interior para unidades da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), o governador disse que toda essa movimentação tem sido feita de acordo com o Poder Judiciário. “O Estado não pode transferir nenhum preso sem anuência do Poder Judiciário, o que nós fizemos foi fechar cadeias velhas, inapropriadas do interior. Todos os presos ficarão aqui na Região Metropolitana até uma outra determinação da Justiça”, disse.
Em entrevista, Camilo comentou a iniciativa de começar a realizar audiências dos detentos via videoconferência, processo que está em andamento em Sobral, Juazeiro do Norte e Russas. Segundo ele, essa foi uma das reivindicações dos governadores durante a reunião com Moro da última segunda-feira (4).
“Gastamos muito dinheiro para levar o preso até a audiência, dinheiro para mobilizar profissionais de segurança, que poderiam estar nas ruas e estão na escolta desses presos, é tempo, estrutura, e tudo pode acontecer via videoconferência. Já estamos com quase todas as principais unidades implantadas”, continua, sublinhando que os presos não serão prejudicados.
Pacote
Camilo voltou a comentar sobre o pacote de medidas propostas por Sérgio Moro para combater crimes violentos e de corrupção, apresentado na última segunda-feira (4) para os governadores brasileiros.
Ele reafirmou a necessidade de rever o modo como é feita a fiscalização de explosivos no Brasil. “Hoje essa é uma realidade de todos os estados, explosão de caixas eletrônicos e de bancos, principalmente no interior. Há uma fiscalização, mas o controle dos explosivos é muito ruim, ou seja, não há controle suficiente para isso.” O governador havia cobrado mais atenção a essa questão durante o encontro.
O petista destaca, ainda, a importância da implantação de um sistema nacional para a segurança pública. “Eu sempre reivindicava construir um sistema único de segurança no Brasil – que foi aprovado ano passado –, com fundo, com metas, critérios e integração. Aliás, foi uma das reivindicações que fiz ontem [segunda-feira], fazer uma nova reunião com os governadores para implantar esse sistema”, disse.