Tornou-se padrão repetir que o segundo mandato de um governante tende a ser pior do que o primeiro. O governador Camilo Santana parece estar ciente disso e quer manter, ou melhorar, a forma de administrar o Ceará, que o levou a ser reeleito no primeiro turno com mais de 70% dos votos. A partir do estudo de uma assessoria contratada, ele pretende ajustar a máquina administrativa de forma a reduzir o gasto público. Entre as medidas propostas está a extinção de seis secretarias, das 27 existentes, e a supressão de 997 cargos comissionados, economizando cerca de R$ 27 milhões por ano, segundo cálculos do governo. A mensagem propondo a mudança já foi enviada à Assembleia Legislativa.
Apesar de a redução das pastas guardar semelhança com reforma
implementada pelo presidente eleito, seria equivocado comparar as duas situações. A proposta de Jair Bolsonaro tem a marca do improviso, como se pôde observar pelo vai e vem das reformas que ele implementou. Camilo cuidou de entregar o estudo às mãos de profissionais, tendo depois analisado as propostas, submetendo-as ao critério político, suscetibilidade que, por vezes, falta aos técnicos. Por "critério político" entenda-se aqui no bom sentido: o administrador público tem o dever de avaliar o que lhe recomendam os técnicos, porém, considerando que os números não podem sobrepor-se às pessoas.
Nesse aspecto, o fortalecimento das áreas da proteção social e do desenvolvimento econômico - para as quais convergirão recursos do Fundo Estadual de Combate à Pobreza (Fecop) -, e a incorporação da Secretaria de Políticas sobre Drogas à Secretaria da Saúde, são medidas importantes. É na busca da sintonia entre o atendimento à população e os recursos disponíveis, ou seja, na sensibilidade em afinar esses instrumentos, que se revelam os grandes administradores públicos.
Por óbvio o governador sabe que reformas de tal monta, uma das "mais profundas das últimas três décadas", nas palavras de Maia Jr, secretário de Planejamento e Gestão do Estado, não acontecem de forma tranquila. A redução de quase mil cargos de confiança - normalmente objeto de indicações políticas -, certamente desagradará a muitos aliados e, ainda, pode haver reações corporativas, mesmo sendo uma medida acertada, e que terá o apoio da sociedade.
Há poucos dias, o governador declarou à rádio O POVO/CBN Cariri que, com a eleição de Bolsonaro, preparava-se para o "pior cenário". As novas medidas ajudarão o Ceará a passar por uma possível quadra de dificuldades. No entanto, a reforma da máquina pública, reduzindo despesas e mantendo-a ajustada à realidade, mas preservando a responsabilidade social do governo, seria elogiável de qualquer maneira.