Hoje basicamente sem adversário na disputa, o vereador Antônio Henrique (PDT) deve ser confirmado hoje o novo presidente da Câmara Municipal de Fortaleza, com mandato até 2020. Salvo uma virada de mesa sem precedentes na Casa, o parlamentar de 3º mandato chegará ao topo do Legislativo municipal em estilo discreto que une conservadorismo, atuação em associações comunitárias e um padrinho de peso: o deputado estadual Sarto Nogueira (PDT).
Mesmo desconhecido pela população e com perfil pouco afeito aos holofotes, o vereador consegue espaços na Mesa Diretora desde o 1º mandato (2009-2012), quando assumiu a 3ª secretaria da Casa. Já na primeira reeleição, em 2012, saiu como um fenômeno silencioso das urnas, 6° vereador mais votado com mais de 13,3 mil votos. Em 2016, cresceu mais e terminou em 4º lugar. As vitórias lhe renderam espaços maiores dentro e fora do Legislativo, assumindo em 2017 o comando da Regional III.
No currículo anterior à vida parlamentar, uma formação em Administração de Empresas e passagem de mais de dez anos pela direção do Desafio Jovem do Ceará, instituição fundada pelo médico Silas Munguba que recupera dependentes químicos de baixa renda desde os anos 1970. A parceria com o médico também rendeu a Henrique talvez o seu mais popular projeto de lei, que alterou nome das avenidas Dedé Brasil e Paranjana em homenagem a Munguba.
Presidente conservador
No perfil ideológico, Antônio Henrique pode ser talvez o mais ativamente conservador presidente da Câmara na história recente. Entre lideranças do autoproclamado progressista grupo de Cid e Ciro Gomes (PDT), o vereador parece mais próximo de nomes da oposição, como Luís Eduardo Girão (Pros). Membro de igrejas evangélicas, apresentou requerimento que instituiu cultos mensais no auditório da Câmara Municipal, participando de vários.
Em 2015, integrou "motim" dentro da base do prefeito Roberto Cláudio (PDT) que removeu menções de combate ao preconceito LGBT do Plano Municipal de Educação. Sem fazer alarde, articulou, ajudou a escrever e assinou emenda que alterou o projeto da Prefeitura, "para garantir a proteção aos nossos filhos e filhas e impedir que nossas crianças sejam incentivadas na escola a comportamentos homossexuais".
Nos 9 anos como parlamentar, acumulou prêmios de amigo da Polícia Militar, incluindo do Raio, e defendeu ideias polêmicas, como toque de recolher para jovens. Na prática, teve atuação discreta, mas mais efetiva, do que a de vários conservadores da oposição.
ANTÔNIO Henrique (PDT), no topo do legislativo municipal (Foto: Divulgação)
Presidente da assistência
De origem pobre, Henrique também acumulou vasto currículo de ações de assistência em vários dos rincões mais carentes de Fortaleza. Ao longo do 1º mandato, manteve parceria com ONGs e associações comunitárias de atuação em bairros como o Parque Presidente Vargas e o Conjunto Esperança. Em eventos que o próprio parlamentar divulgava nas redes sociais, era oferecido todo tipo de assistência, desde atendimento médico até cortes de cabelo.
Em 2012, uma das associações chegou a receber indicação de emendas parlamentares de Antônio Henrique, prática que não tem qualquer irregularidade. "Convivemos com o trabalho e achamos que é positivo. O dinheiro é público e a emenda é do vereador", disse, à época, ao O POVO. Em notícia ainda disponível na página oficial do aliado Sarto Nogueira, no entanto, a associação é apresentada como "escritório" do mandato do vereador, oferecendo "atendimentos médicos, conselho tutelar, assessoria jurídica e transporte em casos de emergência".
O peso da Assembleia
Mesmo com o crescimento de Antônio Henrique, a provável vitória do "ilustre desconhecido" tem explicação maior que a própria Câmara, passando pela eleição que definirá o próximo presidente da Assembleia Legislativa. Marcada para fevereiro do ano que vem, a disputa entre deputados estaduais tem hoje impasse entre Zezinho Albuquerque (PDT), Sérgio Aguiar (PDT), Tin Gomes (PDT) e o próprio Sarto Nogueira.
Magoado com o pouco apoio de Roberto Cláudio (PDT) e com o próprio fraco desempenho em Fortaleza na eleição deste, Sarto deve se dar por "acomodado" e tirar o nome da disputa caso emplaque o aliado na Câmara Municipal.