Enquanto os partidos negociam compor ou não a base do futuro Governo Bolsonaro (PSL), representantes dessas siglas, que estão aliadas ao governador Camilo Santana (PT), tentam se aproximar do próximo presidente, de olho em ocupar o posto de interlocutores entre o Estado e a União. Essas movimentações são vistas como estratégicas para eles se cacifarem, politicamente, nos dois “lados”, principalmente na hora de pleitear demandas.
Mas também a “disputa” por influência política no Congresso Nacional vem a calhar para o governo cearense, se ele quiser transitar com mais facilidade entre os ministérios e obter a liberação de recursos. Isso porque o governador Camilo, reeleito para o segundo mandato, estará no campo de oposição a Bolsonaro.
Embora afirme ser independente, uma vez que o seu partido ainda não definiu como atuará no Governo Bolsonaro, o deputado federal reeleito, Domingos Neto, presidente do PSD no Estado, já costura relações com aliados do futuro mandatário do País. Dias antes da eleição do segundo turno, ele se reuniu com o presidente estadual do PSL, deputado federal eleito Heitor Freire, para articular a formação de um bloco para a disputa da Mesa-Diretora da Câmara.
“Eu não estou declarando apoio (ao Bolsonaro), agora, o Brasil precisa que a gente possa ter uma postura de apoiar o projeto que seja bom para o Brasil. O Governo Camilo precisa de Brasília e precisa construir pontes. O senador Eunício é do partido de Michel Temer, que votou a favor do impeachment, e foi apoiado pelo Camilo. Naquele momento, foi estratégico para o Estado”.
O Solidariedade é outro partido que permaneceu neutro no segundo turno da eleição presidencial. O presidente estadual da legenda, deputado federal reeleito Genecias Noronha, ao ser questionado sobre possível apoio ao próximo presidente da República, ele sinaliza que sim, mesmo que, no Estado, ele seja aliado a um governo petista. “O Camilo precisa de alguém que faça interlocução entre ele e o Governo Federal, o Ceará não pode ser prejudicado, porque é de oposição, mas a decisão não é nacional, quem vai tratar são os interlocutores partidários. Eu quero conversar com os deputados”, disse.
O deputado federal eleito do PR, pastor Jaziel Pereira, compõe a base de apoio do Governo Camilo Santana, mas declarou apoio à candidatura de Jair Bolsonaro na reta final da disputa e participou de atividades do comitê de Bolsonaro em Fortaleza. Ele, no entanto, não vê “dubiedade” em manter essa relação. “O governador Camilo, pra mim, é um petista que não é petista nato. Ele foi bem avaliado por 80% dos eleitores que votaram nele. No que diz respeito ao Bolsonaro, nós temos uma afinidade de pensamentos, então a nossa linha é a seguinte: se tiver coerência, está conosco”.
Enquanto isso o deputado federal eleito, Heitor Freire, um dos fortes aliados de Bolsonaro no Ceará, disse que pretende iniciar uma investida aos parlamentares da bancada cearense para alargar a base de Bolsonaro na Câmara.
“Se um deputado quiser levar um projeto de asfalto, uma emenda, tem que ser por intermédio do Governo Federal, se quiser sobreviver, tem que vir pro Governo Federal”, sustentou Freire.
Fusão
Deputado eleito para primeiro mandato, Júnior Mano, do Patriotas, afirmou que a tendência é que ele siga os mesmos passos de seus colegas: apoiar Bolsonaro no nível federal e estar ao lado de Camilo, no Ceará. “Estamos tendo conversa avançada com a base do Bolsonaro, em Brasília, e aqui no Estado, aguardando a definição do governador. Em nível de Estado, o Patriotas é da base do Camilo”, explicou.
Ele informou ainda que a definição de apoio local dependerá de uma possível fusão do Patriotas com outra legenda, uma vez que a sigla não atingiu o percentual estipulado pela cláusula de desempenho. Segundo ele, o secretário-chefe da Casa Civil, Nelson Martins, esteve dialogando com ele há alguns dias. “Vamos trabalhar para trazer o melhor para o Ceará. Se for para ajudar com emendas, com recursos, tudo bem. Mas se for para atrapalhar, sou contra”.
A tendência do Partido Progressista (PP) também é se alinhar com o presidente eleito. No Estado, a legenda elegeu só um representante, AJ Albuquerque, filho do presidente da Assembleia Legislativa, Zezinho Albuquerque (PDT), um dos principais aliados de Camilo. O MDB já definiu apoio ao novo Governo de Camilo, mas não há definição quanto a Bolsonaro. O partido reelegeu o deputado Moses Rodrigues.