O aumento da criminalidade contra mulheres foi tema de pronunciamento, ontem, no plenário da Assembleia Legislativa. O deputado Ely Aguiar (PSDC) cobrou ações efetivas para o combate ao feminicídio no Estado. Segundo ele, o número de mulheres assassinadas já soma 265 no Ceará, no primeiro semestre de 2018. Somente nas últimas 24 horas, outras duas foram executadas. “É preciso repercutir para que o Governo acorde e adote providências cabíveis”, defendeu.
O parlamentar afirmou haver omissão dos parlamentares em relação ao caso nos debates da casa.“Será que não existe interesse em levar a voz em defesa dessas pessoas, contra esse crime com as mulheres cearenses?”, questionou.
Com base no boletim do Instituto Maria da Penha, o deputado apontou que, além do crescimento da vitimização de mulheres no Estado, principalmente das jovens, ressurge nova onda de chacinas. Ainda de acordo com o documento, desde 2015, esse número vem num patamar alto e, em 2018 (apenas no primeiro trimestre), já houve o mesmo número de chacinas dos anos de 2015 e 2017. “É um boletim oficial atrasado, pois os números aumentaram”, lembrou. “As mulheres são assassinadas de toda formas. Ontem, foi assassinada ao lado da máquina de costura. Hoje no Vila Velha assassinaram mais uma”, comentou.
Diante destas constatações, o Instituto Maria da Penha recomendou, conforme ele, uma série de providências ao Governo Estado. Entre as quais, oferecer atenção, prioridade e efetivação com celeridade aos programas de formações estratégicas, em conjunto dos agentes públicos dos setores de saúde, educação e segurança pública para o enfrentamento da violência contra a mulher. “Essas sugestões não são do Ely Aguiar e, por isso, espero que o Governo acolha, como forma de reduzir essa matança indiscriminada de mulheres cearenses; são recomendações do Instituto Maria da Penha, respeitado não apenas dentro, mas fora do Brasil”, disse.
Sobre o assunto, o deputado Capitão Wagner (Pros) disse que soma em defesa das mulheres. “Me somo no sentido de fazer com que as autoridades entendam que segurança é muito mais ampla do que o trabalho que esta sendo feito no Estado”, ressaltou.
O deputado Doutor Leônidas (Patri) afirmou que os números são “estarrecedores”. “Temos que vigiar e caminhar na frente de um projeto maior, antes que aconteça o crime. Ter a educação como forma de consciência desse progresso da mulher”, pontuou.
Para o líder governista, deputado Evandro Leitão (PDT), o Governo tem dado atenção especial e procurado desenvolver políticas para as mulheres. Ele citou a Casa da Mulher Fortaleza, inaugurada em junho deste ano. “O equipamento é o quinto no Brasil e o segundo no Nordeste”, salientou.
Marielle
Ainda em plenário, o deputado Renato Roseno (Psol) lembrou a passagem de 120 dias do assassinato da vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco. “Após todo este período de uma brutal, covarde e violenta execução, o crime continua sem punição e responsabilização”, afirmou.
Segundo o deputado, até agora, são poucas as informações sobre o assassinato. “Sabemos que ela foi atingida por uma submetralhadora de uso privativo das forças de segurança, e que foram desviadas do arsenal da Polícia Civil do Rio de Janeiro; e que das 11 câmeras de segurança no trajeto feito pela vereadora, cinco estavam desligadas”, assinalou.
Renato Roseno salientou que a sociedade quer saber quem mandou matar e quem matou Marielle, pois avalia que o Brasil ainda é um país que carrega a chaga dos assassinatos políticos. “Somente em 2017, foram mais de 70 lideranças do campo assassinadas. Sabemos que, tanto no agronegócio como na política, se contrapor ao poder estabelecido é muito perigoso, e a Marielle tinha esta coragem”, acrescentou.
O deputado considerou a morte da vereadora como um atentado à democracia, e que a luta dela precisa ser a luta de todos. “Ela era a expressão e a encarnação de tudo o que queríamos de mais novo na política, uma mulher negra, favelada e símbolo do movimento LGBT, que teve a trajetória interrompida, mas que continua presente nas nossas lutas”, ressaltou Roseno.
Já o deputado Gony Arruda (PP) enfatizou que Marielle Franco combatia as desigualdades, porque viveu isso na pele e incorporava bandeiras valiosas para a sociedade. “Foi um crime bárbaro e inaceitável contra uma mulher que orgulhava a democracia brasileira e o País precisa saber o que de fato motivou o assassinato desta mulher pública”, pontuou.
Para o deputado Roberto Mesquita, a vereadora Marielle era um espelho para a sociedade brasileira. “O espelho ficou trincado, quando vemos que a brutalidade ainda cala vozes com o sentimento de luta que ela tinha”, lamentou. Já o deputado Dedé Teixeira (PT) comentou que a vereadora era um símbolo de lutas das mulheres da favela e negras. “Que o seu legado faça com que nós, que representamos a sociedade nos parlamentos, possamos fortalecer a luta das mulheres negras, da diversidade sexual, para que tenhamos um País mais justo”, destacou.