A criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a operação Lava Jato causou reações no meio político. Embora a matéria tramite na Câmara dos Deputados, em Brasília, parlamentares repercutiram o tema, ontem, durante sessão plenária na Assembleia Legislativa do Ceará.
O deputado Fernando Hugo (PP) criticou a matéria afirmando que a Lava Jato vem atendendo aos anseios da população ao dar conhecimento dos casos de corrupção na política brasileira e penalizar os culpados. “Essa CPI não trará melhoria alguma na funcionalidade da Lava Jato, ainda mais comandada por parlamentares que não deveriam ter nem a coragem de assiná-la”, opinou.
A criação da CPI foi solicitada pelo deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS), com o objetivo de investigar denúncias de irregularidades veiculadas pela imprensa relacionadas a delações premiadas no âmbito da operação Lava Jato.
Para Fernando Hugo, no entanto, não existe mais qualquer estrutura partidária que possa apontar o dedo para os outros, pois todos já contam com histórico de corrupção. “É bom acabar com essa história de personificar a corrupção em um partido só. Aqueles que assinaram num dia e retiraram no outro só provaram essa desfaçatez. A Lava Jato não merece ter seus passos intercalados”, repudiou.
Na avaliação do deputado Leonardo Araújo (MDB), a Lava Jato vem fazendo um “bom serviço”. Ele pondera que a abertura de uma CPI talvez resultasse em seu encerramento. “Há excessos sim, e eles devem ser punidos. Porém, o encerramento da operação seria um desserviço à população”, avaliou.
Para o deputado Dr. Leônidas (Patri), a perseguição deve ser feita a quem erra, e não generalizando os partidos.
Abuso
Já o deputado Dr. Santana (PT) ressaltou que o objetivo da CPI é investigar os abusos que acontecem na operação. “Usar delações como corrupção ou perseguição política de uma operação que vem justamente para acabar com isso? O que é correto deve ser reconhecido, mas os excessos devem ser corrigidos”, defendeu.
O petista afirmou que a ideia da CPI partiu da denúncia de dois doleiros, que afirmaram que um advogado estaria cobrando R$ 50 mil para livrar as pessoas das denúncias da Lava Jato.
“Essa CPI deve apurar se as delações são verdadeiras ou não, se elas acontecem por motivos políticos, financeiros ou de qualquer outra ordem. É uma ferramenta legítima, que não seria necessária se a própria operação tivesse realizado essas investigações”, observou.
Eleitoral
Santana (PT) também comentou sobre reunião que teve com o procurador regional eleitoral Anastácio Tahin, do Ministério Público Eleitoral (MPE), para tratar da corrupção eleitoral. O petista afirmou que o procurador está interessado em tomar medidas a respeito e que o auxílio dos parlamentares pode ser de grande importância.
O parlamentar reafirmou para o procurador sua ideia, já defendida na tribuna da AL outras vezes, de que o sistema eleitoral brasileiro foi corrompido por uma relação “promíscua” com o capital e os grandes empresários.
Dr. Santana lembrou que essa relação começou numa época em que a legislação permitia o financiamento privado de campanhas. “Aqui, é que a coisa foi feita de forma errada, pois o capital passou a investir em políticos, a fim de criar uma bancada sua em todas as instâncias políticas, tornando esse abuso do poder uma regra e corrompendo a vontade soberana do povo”, afirmou.
O promotor Anastácio Tahin, segundo Dr. Santana, tem acompanhado os pronunciamentos, não só dele, mas também dos deputados Fernando Hugo (PP) e Roberto mesquita (Pros), “que podem ter muito a auxiliar nessa tentativa de limpeza das eleições”.
Sobre o assunto, Fernando Hugo (PP) reforçou que o Ministério Público Eleitoral tem condições de fazer as investigações acerca das campanhas políticas milionárias. “Que bom que nossos gritos foram ouvidos, e vamos lutar para que se acabe esse mercado de votos sob a égide do Congresso Nacional, que nunca quis fazer uma reforma eleitoral séria, justa e honesta”, refletiu.
O deputado Dr. Leônidas (Patri) também criticou a influência do capital financeiro nas eleições. “Precisamos refletir seriamente sobre a situação e perceber como os interesses dos empresários têm conduzido nossa vida a partir da sua influência sobre os políticos”, disse.