O Povo/Divulgação
| ESTATÍSTICA | Números são do Comitê Cearense pela Prevenção de Homicídios na Adolescência (CCPHA). No Estado, 981 pessoas entre 10 e 19 anos foram mortas em 2017
Um novo e triste perfil sobre as mortes de jovens no Ceará. Em 2017, o total de crianças e adolescentes entre 10 e 14 anos assassinados em Fortaleza aumentou 207% quando comparado a 2016, passando de 14 para 43. O número de meninas como vítimas também cresceu e causou surpresa: 80 mortes, um crescimento de 196%. Os dados, do Comitê Cearense pela Prevenção de Homicídios na Adolescência (CCPHA), apontam 981 jovens assassinados; média de 19 crianças e adolescentes mortos por semana no Estado.
Em Fortaleza, a maioria dos casos foi registrada nos bairros Bom Jardim e Jangurussu, cada um com 31 das 509 mortes da Capital. Considerando apenas as meninas, a Cidade exibiu um aumento de 417% nos homicídios entre 2016 e 2017, enquanto Caucaia apresentou crescimento de 600%.
O relatório tenta mensurar a realidade da violência, entretanto, a computação de alguns dados da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) não identifica por idade 402 pessoas assassinadas no ano passado. Essa lacuna pode deixar os altos números ainda subnotificados.
É preciso explicar ainda dois dados que se divergem no relatório. Considerando o Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) de Fortaleza, o total de vítimas entre 10 e 19 anos é 509. Pelos números de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs), são 414 mortes na Capital. A diferença se explica pelas aplicações metodológicas diversas. Pelo SIM, é considerada a informação sobre a localização da morte conforme o atestado de óbito da vítima. Pelo CVLI, a localização onde o corpo foi encontrado prevalece. As divergências informativas acabam refletindo nas estatísticas.
O titular da 5º Vara da Infância e da Juventude, Manuel Clístenes, observa que o crescimento do índice de morte de meninas ocorre por duas motivações. “Um fato é que elas têm se envolvido mais com a criminalidade. E o outro é que muitas acabam sendo vítimas porque são companheiras de pessoas envolvidas com o crime”. O magistrado ressaltou ainda que o número de cometimento de atos infracionais por adolescentes tem diminuído, já reflexo do aumento de mortes.
Sobre a incidência maior de mortes entre os mais jovens, Clístenes pondera a desestruturação familiar, que os deixa mais vulneráveis. “Por isso, eles terminam sendo induzidos a usar drogas muito cedo, com 7, 8 e 9 anos. A partir do momento em que começam, para manterem o vício, tendem a ser um braço da criminalidade. E caem na guerra entre facções”.