RELATIVIZAÇÃO DO HORROR
O deputado Ferreira Aragão (PDT) discursava ontem na tribuna da Assembleia Legislativa em defesa de seu projeto que proíbe manifestações artísticas cujo teor seja considerado incentivo ao crime, com alusão a pedofilia, terrorismo ou que atentem contra fé, religião, ordem e paz.
A proposta é bastante ampla e nada específica. Não ficam claros os critérios de julgamento para enquadrar a arte como estímulo aos delitos, quem fará a avaliação. O risco de resvalar para os mais nebulosos anos de censura à arte é enorme.
E nem se disfarça. Em aparte, Doutora Silvana (PMDB) elogiou muito a proposta de Ferreira Aragão. Disse que aquele era o melhor discurso feito por ele na vida. Lá pelas tantas, começou a falar da ditadura militar. Começou dizendo que prefere chamar de regime militar. “Não chamo de ditadura”.
Ela disse compreender os movimentos que pedem intervenção militar, por desejarem o que chamou de “sentimento de ordem”. E atribuiu o saudosismo macabro à “bagunça” que existe hoje.
Muita gente foi presa, torturada, assassinada por causa desse “regime” que trouxe “sentimento de ordem”. Mães foram separadas dos filhos pelo governo. O Estado brasileiro foi usado para assassinar, em nome de combater a “bagunça”. Na Assembleia Legislativa cuja tribuna Silvana hoje ocupa, seis deputados estaduais foram cassados por suas posições políticas.
A ditadura violentou a vontade popular, perseguiu pessoas por suas ideias, suprimiu liberdades, prendeu e matou, matou muita gente. Que a relativização e até defesa do arbítrio encontre eco na representação parlamentar eleita é apenas demonstração da indigência que campeia no meio político. Deus está vendo.
ÉRICO FIRMO