Após assumir o governo ao lado da maior oposição eleita em décadas, Camilo Santana (PT) pode chegar ao último ano de gestão com bancada opositora ainda menor que a de Cid Gomes (PDT). Atraindo antigos críticos para a máquina e com disposição para concessões maior que a do antecessor, o petista tem hoje oposição em “hiato”, sem unidade nem clareza sobre sua postura em 2018.
O cenário, que vem se intensificando desde eleições municipais do ano passado, teve contornos mais claros na votação das últimas contas do governo, em setembro. Com oposição dispersa e amplamente ausente, a ação passou com tranquilidade e apenas três votos contrários – situação bem diferente da dos últimos anos, quando chegava a quase dez votos.
Sobre o assunto
Estratégias do governador para atrair adversários na Assembleia
O contexto é comentário geral nos bastidores da Assembleia. Para deputados, situação ocorre sobretudo por conta dos rumores de uma possível reaproximação entre Camilo e Eunício Oliveira (PMDB) para 2018. Apesar de não fechada de fato, possibilidade “no ar” de aliança tem acanhado a oposição, que evita desagradar lideranças dos dois lados.
“Difícil falar alguma coisa agora, assim indefinido. Você esculhamba, fala de tudo no mundo, aí depois muda tudo e você fica em uma situação delicada, queimado com todo mundo”, disse um oposicionista, sob condição de anonimato.
Difícil falar alguma coisa agora. Você esculhamba, fala de tudo no mundo, aí depois muda tudo e você fica numa situação delicada
Deputado oposicionista, pedindo para ficar no anonimato porque, segundo se queixa, tudo muda a todo instante
Dois estilos
A diferença entre Cid e Camilo remonta também aos estilos entre os dois governos. Em seus oito anos de mandato, o ex-governador convidou os mais diversos partidos para a gestão, chegando a manter PT e PSDB no mesmo secretariado. Quem não “sentava à mesa”, no entanto, era tratado a “pão e água” e com embates diretos
Saiba mais
Apesar de garantir maior tranquilidade na Assembleia e maiores ganhos em possível montagem de arco de aliança para 2018, postura “conciliadora” de Camilo – que tem desde secretário tucano até afagos com Tasso Jereissati (PSDB) – tem lhe rendido críticas da militância petista e até de segmentos do partido.
Em eventos do partido, o governador tem sido constantemente constrangido, com presença de militantes cobrando postura mais clara sobre apoio a Lula em 2018 e críticas mais firmes a setores do PSDB e PMDB no Estado.
Já na Assembleia, deputados petistas como Elmano de Freitas e Moisés Braz tem criticado possibilidade de aliança lançando Eunício à reeleição no Senado. “O Eunício estava do lado, e acho que ainda está, do setor que arquitetou e deu o golpe na presidenta Dilma. Então não acho que tenha que ter essa aproximação, inclusive porque o PT deve continuar indicando nome para o Senado”, diz Moisés.