Deputado Fernando Hugo (PP) conversa com o líder do Governo, Evandro Leitão (PDT), durante a sessão de ontem no Plenário 13 de Maio
( Foto: José Leomar )
O desfecho das manifestações realizadas em Brasília, na última quarta-feira (24), pautou discursos e gerou discussão entre parlamentares na Assembleia Legislativa na manhã de ontem. A deputada Rachel Marques (PT) foi a primeira a levar o tema à tribuna. Ela relatou que uma "multidão de brasileiros" esteve na capital federal, convocada pelas centrais sindicais, para protestar contra as reformas trabalhista e previdenciária, além de pedir o afastamento do presidente Michel Temer (PMDB) e a realização de eleições diretas.
"As pessoas que ali estavam para protestar foram vítimas de uma selvageria protagonizada pela Polícia Militar durante as quatro horas de manifestação. Elas foram brutalmente agredidas", lamentou Rachel. De acordo com a petista, imagens gravadas e transmitidas nacionalmente mostram "cenas brutais", com uso, inclusive, de gás lacrimogênio. "Nessa repressão, foi utilizado até helicóptero para jogar bombas sobre a multidão que se mobilizou no direito legítimo de manifestação".
Em aparte, os correligionários da petista, Manoel Santana e Moisés Braz, também se posicionaram. Santana falou em governo "exaurido". "É fato concreto que esse governo, além de roubar a Nação, quer roubar direitos dos trabalhadores. É legítimo direito do povo se mover contra isso e de forma democrática exigir os seus direitos. Mas lamentavelmente os manifestantes foram recebidos a bala, em um atentado à democracia".
'Insanidade'
"Não é do nosso feitio apoiar vandalismo, mas os responsáveis pelas agressões não foram os trabalhadores, a população que foi à rua reivindicar e dizer que não concorda mais com o governo", disse, por sua vez, Moisés Braz.
Após a petista, subiu à tribuna o deputado Fernando Hugo (PP). Ele questionou o que seria conhecido hoje do episódio do Carandiru, quando, em 1992, uma rebelião culminou com a morte de 111 presos após invasão da Polícia Militar de São Paulo, se não tivessem sido feitas filmagens da ação.
"Lembro que, aqui nesta Casa, dois ex-deputados, Inácio Arruda e João Alfredo, disseram: 'graças a Deus que o episódio dos Carajás foi filmado'". O caso conhecido como Massacre de Eldorado do Carajás ocorreu em abril de 1996, quando foram mortos 19 sem-terra no município de Eldorado do Carajás, no sul do Pará, em decorrência de ação da Polícia do estado do Pará.
"Gravaram a maior sandice comportamental de massa já existente no Brasil. Nem a violência extraestádios chega a se comparar com a insanidade efetuada ontem (quarta-feira) em Brasília. Só o que não falaram foi em reforma. A televisão mostra, mas temos colegas que não assistem a televisão ou as imagens veiculadas nos seus lares são diferentes", apontou. "Quem assistiu a televisão viu verdadeiros vândalos e bárbaros arrancando banheiros químicos, tocando fogo. Não satisfeitos, invadiram os ministérios", prosseguiu.
Fernando Hugo rechaçou a colocação de que Temer esteja no poder de forma ilegítima. "O presidente foi eleito na chapa da corrupção, da improbidade, mas tem legitimidade, embora seja um bandido e que já deveria ter renunciado", disse.
João Jaime (DEM) afirmou que, em meio aos manifestantes, não havia infiltrados. Ele disse, ainda, que os "vândalos, terroristas" que incendiaram os ministérios, e até a Catedral, estavam mascarados, com camisas vermelhas na cabeça. "Os sindicalistas estavam em carros de som insuflando os terroristas a fazerem baderna. Essa é a gente que não quer que o Brasil saia da crise. Quer que o pior aconteça, para que se beneficiem politicamente e possam tentar voltar ao poder em 2018, mas a população vê tudo isso e o Brasil vai ficar dentro da Constituição".
Perda de apoio
Ely Aguiar (PSDC) defendeu que a anarquia não poderia acontecer, sob o preço de que as manifestações percam o apoio popular. "Não vimos uma bandeira do Brasil, mas vimos cubana, bandeira do PT e da CUT. Temos de ter cuidado, pois tentam implantar o comunismo no Brasil. Querem aplicar golpe rasteiro no País", colocou.
O primeiro-secretário da Assembleia, deputado Audic Mota (PMDB), disse ter ouvido relatos de que manifestantes foram recebidos com gás de pimenta, mas opinou que a cena mais "pitoresca" teria sido a de um cerco feito por "marginais" a um grupo de policiais. "Em outros países que se dizem mais civilizados, isso era razão suficiente para reação direta e imediata. Há quem queira defender que isso seja normal e entendido como manifestação pacífica. É um absurdo o que vimos", criticou. Lucílvio Girão (PP) se disse a favor da democracia de ir e vir. "De vandalismo sou totalmente contra".