A presidente da sessão, deputada Augusta Brito, em meio à pressão dos oposicionistas para a manutenção dos trabalhos de plenário recebe a solidariedade dos aliados governistas Tin Gomes e Evandro Leitão
( Foto: José Leomar )
A crise política no Brasil teria chegado ao seu ponto mais crítico, segundo alguns deputados da Assembleia Legislativa do Ceará. Para eles, somente através de uma mobilização realmente efetiva da população o quadro político atual será modificado. No entanto, a sociedade vem se mostrando cada dia mais apática diante dos recorrentes escândalos envolvendo as representações públicas no País.
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Algumas manifestações, como as que aconteceram ontem, em Brasília, e outras em vários estados brasileiros em momentos diferentes, não contribuem para a solução dos nossos problemas. Elas acabam se transformando em baderna, contribuindo mais ainda para o acirramento da crise política nacional.
"Cada dia estamos mais estarrecidos. Chegamos num ponto muito delicado da política brasileira", disse o presidente do Poder Legislativo, o deputado Zezinho Albuquerque (PDT). Segundo ele é preciso que a Constituição brasileira seja cumprida para que os poderes da República, de forma harmônica, apresentem uma saída para a crise política no País. "Todas as denúncias terão que ser comprovadas, e depois de julgadas, teremos a nitidez do que está, realmente, acontecendo", explicita.
Representatividade
Para o deputado Renato Roseno (PSOL) é preciso que o povo vá as ruas cada vez mais. Para ele, apesar da aparente falta de envolvimento das pessoas com a coisa pública, há manifestações crescentes no Estado que a classe política não está percebendo. Segundo ele, "os profissionais da política" querem resolver todo o imbróglio envolvendo o nome do presidente Michel Temer de forma indireta, para evitar, assim, um processo de eleição direta.
"A questão não é só o Temer. Há vários governadores e pelo menos 200 deputados federais envolvidos em corrupção. Há uma corrosão de legitimidade e uma crise do sistema político nacional. Não é somente uma crise do Palácio do Planalto, mas algo muito mais grave", avaliou o socialista, que defende a aprovação do que ele chama de Reforma Política Democrática, apresentada pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
"Eu só acredito na solução a partir do povo", disse o deputado Elmano de Freitas (PT). Para o petista o País vive um momento de grave crise de representatividade, onde a população está descrente das representações políticas. "Precisamos fazer com que o nosso povo faça parte do processo eleitoral, de forma direta. O tema da Reforma precisa ser o assunto central. Se não tiver reforma do sistema político não vamos para a frente", disse o petista.
Para o tucano Carlos Matos a solução não sai somente dos atos políticos e sem a participação dinâmica da sociedade corre-se o risco de se repetir o que está ocorrendo no Congresso Nacional e Governo Federal. "Há todo um processo. A Inglaterra aperfeiçoa o processo democrático desde o século XII. Quando eu nasci aqueles que tinham 18 anos não podiam votar, porque vivíamos uma ditadura. Hoje, o jovem despreza o valor do voto. Precisamos acreditar na política, porque só assim vamos mudar todo o quadro vivenciado hoje na política".
Para Capitão Wagner (PR) a solução só virá após as eleições do próximo ano, quando a população terá um maior nível de maturidade quanto ao voto, visto os constantes casos de corrupção noticiados dia após dia no noticiário nacional. Segundo disse, é importante também a não generalização dos agentes públicos como partícipes da corrupção, visto que nem todos estão envolvidos em irregularidades.
O deputado José Sarto (PDT) afirmou que é preciso maior mobilização "racional e passional" da população, no sentido de perceber quem são os oportunistas e plantão. "Cabe à sociedade se organizar de forma ordeira e ao Congresso, se tiver estatura de República, se associar a essas dores da população, atendendo a escolha direta para presidente", disse. O pedetista é um dos defensores de eleição direta já neste ano, o que faria com que os congressistas entrassem para a história política brasileira.
Sessão
Ontem, no plenário da Assembleia, Sarto voltou a falar no caso que envolveu o ex-governador cearense Cid Gomes, para reclamar da partidarização que adversários políticos fazem do caso, mesmo desconhecendo os depoimentos prestados por delatores, em qualquer dos casos apontados até hoje.
Especificamente, o parlamentar pedetista fazia referência aos discursos de deputados da oposição que, segundo ele, em relação ao caso, com o efeito único de tirarem proveito da situação, sem se preocuparem com as responsabilidades dos seus mandatos e as consequências futuras de tais manifestações políticas.
Na sessão de ontem, que só terminou no meio da tarde, a oposição voltou a reclamar do fato de os deputados governistas esvaziarem o plenário da Assembleia para evitarem a discussão dos problemas que digam respeito ao Estado. No dia anterior, os aliados do governador Camilo Santana, logo após o discurso do líder Evandro Leitão pediram verificação de presença e como o plenário estava esvaziado a sessão foi levantada. Ontem, houve tentativa de repetição do fato, mas não foi possível, embora a presidente da sessão tenha sido muito pressionada.