Deputado Heitor Férrer (PSB), que acumula quatro mandatos na Assembleia, diz que, no atual contexto, pedir votos pode ficar mais difícil
( Foto: José Leomar )
Faltando um ano e meio para o pleito de 2018, quando serão eleitos presidente, governadores, senadores, deputados federais e estaduais, alguns parlamentares cearenses estão apreensivos com a disputa que se avizinha. Tanto o descrédito da classe política entre a sociedade quanto as incertezas em relação à Reforma Política em discussão no Congresso Nacional estão fazendo lideranças reverem posicionamentos com vistas à disputa eleitoral.
Deputados estaduais, por exemplo, acreditam que as sessões plenárias da Assembleia Legislativa do Ceará tendem a ficar cada vez mais esvaziadas, visto que os políticos darão mais ênfase as visitas às bases eleitorais, uma vez que, com a crise da representatividade, podem ter mais êxito aqueles que estiverem próximos de seu eleitorado.
Outros defendem que nem dessa forma poderão se consagrar vitoriosos, visto a necessidade de uma mudança mais estrutural no sistema político brasileiro, além de conscientização da população. "É crescente o descredenciamento do homem público, assim como a confiabilidade deste mesmo homem. O lastro moral dos representantes populares vem diminuindo e respinga em todos", diz o deputado Heitor Férrer (PSB), que está no quarto mandato.
Segundo ele, no contexto de descrédito à classe política, pedir votos fica mais difícil. Apesar de acreditar que, em 2018, terá mais dificuldades para se reeleger, o parlamentar afirma que vem buscando manter um vínculo com seu eleitorado, por meio de divulgação do mandato nas redes sociais, correspondências e outras ações de integração. "Essa dificuldade pela qual passa a classe política, tenho percebido que me atingiu menos do que a classe como um todo".
Dificuldades
Roberto Mesquita (PSD) ainda não tem certeza sobre uma tentativa de reeleição em 2018, mas, para ele, o desgaste após casos de corrupção envolvendo políticos será o ponto principal para os que tentarão se reeleger.
A preocupação maior do candidato, diz ele, será fazer com que a população o diferencie dos demais, principalmente no que diz respeito à honestidade. "Ideias retrógradas estão sendo abraçadas, desde que o autor tenha personalidade forte, como podemos ver no caso do deputado Jair Bolsonaro", citou.
Já para Renato Roseno (PSOL), é o atual sistema político um dos pontos de dificuldade. O parlamentar, em 2010, recebeu 110 mil votos para deputado federal, mas, ainda assim, não atingiu o quociente eleitoral necessário para ser eleito.
O mesmo aconteceu com o candidato a vereador pelo PSOL Ailton Lopes, no ano passado. Ele foi o quinto mais bem votado, mas não eleito. "O problema é que os fisiologistas e patrimonialistas fazem regras que facilitam suas vidas", dispara Roseno.
Elmano de Freitas (PT) observa que há uma "descrença profunda" na sociedade quanto à política em geral, e isso se reflete na baixa participação política e grau de decepção com a vida pública brasileira, a partir de denúncias e afastamento de políticos de suas bases. "Temos visto o crescimento constante dos votos brancos e abstenções, e isso sinaliza um sentimento de crítica à política", menciona.
Segundo ele, as pessoas que têm um pensamento mais crítico quanto à política estão cada vez mais se afastando do processo eleitoral, o que abre margem para que políticos "mal intencionados" se aproximem e estejam presentes nas casas legislativas.
"Isso fragiliza, porque quem não compra voto não vai votar e quem vai votar está disposto a vender o voto", lamenta. Elmano destaca que mudança no sistema eleitoral pode até ajudar, mas, para ele, o que deve aumentar é a participação social.
Fator financeiro
"Ao invés de não participar da política, passar a interagir ativamente, porque quanto mais gente séria se afasta, mais gente ruim se aproxima fazendo coisas nocivas à sociedade", coloca.
Carlos Felipe (PCdoB), por sua vez, opina que o sistema está montado para eleger deputados que têm história política ou vínculos com o Poder Executivo e seus meios políticos. Além disso, ele aponta que o fator financeiro ainda define, muitas vezes, os rumos das eleições. "Você ser eleito com voto espontâneo e voto consciente é o grande desafio para se ter uma mudança real na política", defende.
Julinho (PDT) acredita que é preciso, primeiro, saber como ficará a Reforma Política discutida no Congresso Nacional, porque, para ele, com o atual desgaste da classe política, ficará cada vez mais difícil a reeleição.
Silvana Oliveira (PMDB), que teve um dos menores gastos de campanha para deputado em 2014, diz, porém, que a população identificará quem tem se dedicado ao mandato. "O mandato se constrói dia após dia, com frequência no plenário, junto aos eleitores e buscando melhoria para a vida das pessoas".