Quem imaginou que a polarização entre esquerda e direita havia se fragilizado após a aprovação do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), ou depois do fim das manifestações de rua das diversas frentes ideológicas, se enganou. A disputa por espaços é algo caro para o exercício diário da política, por mais que renda críticas pelas contradições do ofício. A prática ficou clara quando o PT apoiou O PMDB — seu algoz no “golpe” — para a presidência do Senado, em fevereiro deste ano.
Sobre o assunto
Nas Comissões, Câmara de Vereadores repete o mesmo cenário de disputa
A ocupação dos espaços se mantém como a principal arma para o fazer política. Diante das disputas entre progressistas e conservadores, percebe-se o objetivo maior nesse processo: a pauta social.
Nas Casas legislativas do Ceará, Câmara Municipal de Fortaleza (CMF) e Assembleia Legislativa do Ceará (AL-CE), a esquerda procurou ocupar os espaços da sua pauta histórica nas comissões técnicas neste ano. Enquanto a direita, para se contrapor aos movimentos progressistas e impor a sua pauta conservadora, também exigiu seu lugar de destaque.
As visões
Presidente da Comissão de Direitos Humanos da AL-CE, a deputada Rachel Marques (PT) deixa claro o papel que espera da comissão que preside e como deve ser a condução dos debates. “A Comissão sempre foi um espaço de resistência daqueles que lutam por direitos. É exatamente o momento em que está havendo um retrocesso em relação aos direitos alcançados, como vemos no projeto da reforma da Previdência”, disse a petista.
De acordo com a deputada, há um crescimento das “forças conservadoras” no País, desde a queda de Dilma, que precisa ser combatido através de instrumentos como esse na Casa. “Nós vamos continuar combatendo retrocessos aqui”, diz.
Recém-eleita presidente da Comissão de Educação da AL-CE, a deputada Dra Silvana (PMDB) adiantou sua intenção de pautar o projeto “Escola Sem Partido”, que pretende doutrinar o ensino evitando, assim, a influência ideológica que professores exerceriam sobre os alunos. Religiosa, a peemedebista se envolveu em várias polêmicas nos últimos anos e não vê problema nelas. “Vou lutar pelo ‘Escola sem Partido’. Sei que vai dar uma polêmica danada. Já está dando”, disse.
Vice-presidente da Comissão de Educação, Rachel Marques promete a resistência e o debate do assunto na AL-CE. “Nós vamos fazer o debate. Essa questão da Escola Sem Partido é uma intenção de calar e de não permitir que tenhamos escolas que formem pensamento crítico, que formem para a cidadania”, rebateu.
Saiba mais
Na Câmara dos Deputados, em Brasília, não é diferente. Na Comissão de Direitos Humanos e Minorias, o presidente e os outros três vice-presidentes são parlamentares do PT. Ou seja, em defesa de pautas consideradas mais progressistas.
Por outro lado, quem preside a Comissão de Educação da Casa é o deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP). Trata-se de membro da Frente Mista Católica Romana na Câmara, indicando uma postura dentro de uma linha marcada pelo conservadorismo.