De tudo que aconteceu na disputa pela presidência da Assembleia Legislativa do Ceará, o mais lamentável, sem dúvidas, foi ver o Tribunal de Contas dos Municípios (TCM) envolvido no meio de um embate eminentemente político. Um órgão que deveria primar pela independência e manter total distanciamento do jogo pesado que envolve a busca pelo poder acabou se transformando em instrumento de negociações nem um pouco republicanas. Situação que fez o deputado Ivo Gomes (PDT) ir ao Facebook afirmar até que "prefeitos honestos" estariam sendo ameaçados e "prefeitos picaretas sendo perdoados". Algo que, se confirmado, é muito grave. Entretanto, caberia aqui uma autocrítica por parte do também prefeito eleito de Sobral. Afinal, como Domingos Filho chegou ao cargo de conselheiro do TCM? Basta remontar a 2014, quando seu irmão, o então governador Cid Gomes, para manter amplo arco de alianças e conseguir eleger um sucessor, no caso Camilo Santana (PT), garantiu a Domingos uma vaga no tribunal. Movimento que incluiu a aposentadoria antecipada de um dos membros da Corte, o engenheiro Artur Silva, e a polêmica criação de um novo cargo de conselheiro na Agência Reguladora do Estado (Arce) para abrigá-lo. Um arranjo político às custas das estruturas públicas e que hoje se volta contra seu criador. Se hoje o grupo de Domingos Filho se rebela contra o Palácio da Abolição e faz acordos que podem desestabilizar relações institucionais, a culpa é também dos Ferreira Gomes. Se a oposição cresce e ameaça a governabilidade de Camilo é por conta de decisões do passado mal pensadas e imediatistas. Por toda a força e experiência de Domingos Filho, seria, no mínimo, ingênuo pensar que colocá-lo em um espaço "técnico" o afastaria do mundo político. Para ambos os lados, a realidade exige menos hipocrisia e mais mea culpa.