A Coelce agora é Enel Distribuição Ceará, carregando o nome de sua controladora italiana (Enel). A mudança começa hoje, apagando uma marca de 45 anos, conforme antecipado pela coluna Vertical S/A em 4 de setembro. Também deve ser acompanhada por uma mudança de cultura, com foco prioritário sobre a geração distribuída, ou sistema de compensação, em que o consumidor gera sua própria energia e lança na rede de distribuição.
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Segundo a empresa, a transição também traz investimentos, com R$ 280 milhões em automação da rede no Ceará e Rio de Janeiro. Com isso, promete melhorar a qualidade do serviço, tentando reverter um quadro de insatisfação dos clientes, como diante da espera para novas ligações de energia, situação que Abel Rochinha, presidente da Enel Distribuição Ceará, promete resolver até junho de 2017. Já o terceiro lugar no ranking de reclamações no Procon, ele minimiza. “É mera questão probabilista. Você tem maior quantidade de pessoas (clientes), é óbvio que o percentual de reclamações é maior”. Estes e outros questionamentos é o que Rochinha e Carlos Zorzoli, country manager da Enel no Brasil, esclarecem nesta entrevista concedida ao O POVO.
O POVO - Na transição de Coelce para Enel, o que muda para o consumidor além da marca?
Carlos Zorzoli - Enel vem de um reposicionamento estratégico, que começamos há mais de dois anos, que vê toda a companhia, no mundo, focada em três pilares: energias renováveis, redes, que significa distribuição, e serviços e produtos de valor agregado para o cliente. A mudança de logo é uma forma de representar a mudança no mundo. O mundo está mudando, chegando novas tecnologias, alguns consumidores têm exigências novas, alguns são também pequenos geradores.
Abel Rochinha – A área de energia elétrica sempre foi uma área muito tradicional. Mas a relevância do cliente se impõe. A ideia é muito mais de mudar a forma de enxergar o nosso negócio, muito mais focado no cliente do que nos fios, nos postes.
OP – Qual o investimento na mudança ?
Rochinha – Tem investimento bastante elevado em termos de tecnologia. Não podemos revelar por sermos empresa de capital aberto. Colocamos agora no Rio de Janeiro e estamos trabalhando no Ceará, que é a questão de telecomando. Em vez de mandar eletricista em algum lugar para religar aquela parte que não foi afetada, você faz isso automaticamente do centro de controle. Você reduz em 90% alguns casos de intervenção na rede. Tem também a geração distribuída e isso é um caminho. Já está acontecendo em diversos países. Inclusive saiu uma reportagem dizendo que aumentou 400% a geração distribuída no Brasil, no último ano (dado Aneel), e isso vai ser só o início. O que vai acontecer é que vai caber à Enel o papel de regular a entrada da demanda de energia e como isso se distribui dentro da nossa rede. Em algum momento vamos ser mais a bateria do sistema do que propriamente o fornecimento de energia. Esse modelo vai disparar.
OP – O que a empresa investiu esse ano no Ceará e o quanto pretende investir em 2017?
Rochinha - Foram R$ 333 milhões até setembro - aumento de 13% em relação ao mesmo período do ano passado. Na verdade, a gente está endereçando duas questões aqui na Enel Distribuição Ceará. A primeira questão, que era um problema que já vínhamos discutindo, é o atendimento a novas ligações de energia. A Coelce tinha um gap (atraso), uma diferença, e até meados junho do ano que vem encerraremos toda a pendência de novas ligações. Outra parte dos investimentos é a questão de tecnologia. Agora se pegar o montante de investimentos que temos feito no Ceará, ele vem crescendo a taxas de quase 10 a 15% ao ano.
OP – Como a Enel pensa em investimentos em energia renovável no Ceará?
Zorzoli – O Ceará foi o primeiro estado do Brasil onde especialmente a geração de energia eólica começou. A vantagem de ser o primeiro acabou virando desvantagem no sentido que, no Ceará, já esgotamos a capacidade da área de transmissão de interligar a geração renovável adicional. Infelizmente, até que alguns gargalos, nessa parte de linhas de transmissão, solucionem-se, é difícil fazer grandes projetos renováveis no Ceará. Não obstante a isso, trabalhamos com outra companhia do grupo, que é a velha Prátil, que vai se chamar Enel Soluções, na geração distribuída. E não é segredo que no Ceará completamos o primeiro condomínio solar com um projeto de geração distribuída que permite abastecer a fornecer eletricidade à rede de farmácias Pague Menos. No sentido das pequenas usinas de geração distribuída, continuamos a acreditar que o Ceará tem recurso excelente, vamos seguir nisto. Para dar ideia temos hoje mais de 130 clientes no Ceará atendidos com geração distribuída. Isso vai crescer e queremos ser a principal companhia que faz isso não só no Ceará.
OP – A aquisição de térmica no Pecém vai se consolidar?
Rochinha – Estamos aguardando condições de leilão de energia.
Zorzoli - Queremos ter um portfólio de tecnologia o mais abrangente possível.
OP – Enel privilegia contratação de suprimentos e prestação de serviços do Ceará?
Zorzoli – Assim como temos que ganhar leilões, os nossos fornecedores têm que ganhar. Para a maioria dos serviços, muito provável que ganhe uma companhia cearense, mas não tem um número reservado, porque isso é uma distorção da competitividade, que, ao final, reflete negativamente para os consumidores.
Rochinha – Quase todos nossos serviços são feitos por pessoal local. Na questão de materiais, vale para o Brasil inteiro, porque buscamos o preço melhor.
OP – A Coelce foi eleita por seis vezes como melhor distribuidora do País, ao mesmo tempo em que despencou 11 posições no ranking da Aneel de serviços prestados no Ceará. Além disso, é a terceira maior reclamada no Procon, ao mesmo tempo em que teve melhora na receita. Porque melhor por um lado e por outro não?
Rochinha - O principal efeito de 2015 foi o efeito Chesf, com blecautes, e isso entra na conta. Para a Aneel ficamos com serviço pior. Tem a questão da percepção do cliente, que não quer saber quem foi, se foi Enel ou Chesf. Esse ano deve ser melhor, porque a Chesf melhorou seu desempenho. A questão do Procon já foi objeto de varias discussões. O fato que você falou de sermos o terceiro já me deixa satisfeito, porque mesmo assim já não estou no topo. É mera questão probabilista. Você tem maior quantidade de pessoas, é óbvio que o percentual de reclamações é maior.
OP – Na Assembleia Legislativa, os deputados estaduais já foram ao púlpito várias vezes para se queixar da Coelce e inclusive já houve CPI da Coelce duas vezes. Como a Enel vê essa relação com a Assembleia?
Rochinha – Igual como era. Sempre foi muito positiva. Óbvio que, como uma das maiores empresas do Estado, é obvio que somos sempre assunto e não vamos dizer que somos perfeitos. Se convidados à Assembleia, vamos conversar lá. Podemos discordar, é parte da democracia, mas sempre tem resposta, atuação e tentativa de chegar a uma solulção que atenda a todas as partes.
Multimídia
Leia íntegra da entrevista
http://bit.ly/2ePHvdT
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Na geração distribuída, o cliente garante o preço da energia antecipadamente e obtém descontos na conta de luz, já que toda a energia gerada é injetada na rede elétrica
A Enel coloca em prática o sistema de compensação de energia, estabelecido pela Aneel, que regula a geração distribuída no Brasil, com o aluguel de plantas solares. Isso permite aos clientes produzirem sua própria energia, mesmo que em local diferente do consumo