Segunda-feira, 19, oito horas da manhã. Num passo ligeiro, a mulher se aproxima do círculo de cadeiras de plástico formado sob a tenda do comitê central de Capitão Wagner (PR), na avenida Barão de Studart. Ao chegar perto do candidato, que conversava com grupo de representantes dos direitos dos animais, abraça-o pelas costas, vendando seus olhos com as mãos.
Em tom de brincadeira, pergunta quem é. Wagner, às cegas, não responde. A mulher, então, vira-se, abre um sorriso largo e lhe aplica um beijo na bochecha direita. Depois outro. E um terceiro. Em seguida, pespega uma declaração à queima-roupa: “O senhor é mais bonito ainda pessoalmente”.
Segue-se uma onda de risinhos incontidos. A mulher dá a volta, escorrega a alça da bolsa do ombro e aboleta-se numa cadeira ao lado de Wagner Sousa Gomes, 37 anos.
Segundo colocado nas pesquisas de intenção de voto para a Prefeitura de Fortaleza, o policial militar não enrubesce fácil. Após o susto, retoma a prosa do ponto exato onde havia sido interrompido: uma proposta de reformulação da Coordenadoria de Controle de Zoonoses.
Usando camisa social branca, sapato e calça pretos, o “Capitão”, como era chamado pelas defensoras, ouviu, por cerca de uma hora, queixumes diversos sobre a saúde de gatos, cachorros e outros exemplares da bicharada.
Sem anotar nada, intervia apenas quando os presentes falavam ao mesmo tempo: “Deixa eu organizar aqui pra gente poder entender
direito”. Fez-se silêncio.
Uma das defensoras, Gabriela Moreira foi cristalina ao explicar a razão de estar ali, numa manhã atipicamente chuvosa de segunda. “Os animais não votam, mas a gente vota”, filosofou antes do início do encontro.
Se por instinto de candidato ou real interesse no bem-estar dos animais, Wagner sabe disso. Seja numa atividade burocrática, seja numa caminhada na periferia da cidade, o postulante apresenta-se estrategicamente como um híbrido: meio candidato tradicional na atividade de garimpo de votos com apoio de políticos já conhecidos, como os senadores Tasso Jereissati (PSDB) e Eunício Oliveira (PMDB); e meio outsider, um rosto jovem conjugando ímpeto de mudança, austeridade e afetividade em doses calculadamente simétricas, de modo a não assustar os mais velhos, conquistar os mais novos e atrair um segmento que tem se revelado especialmente sensível à mensagem do republicano - o feminino.
Daí a insistência no tom monocórdio dos debates, a patente militar que antecede o registro civil e a onipresença da família na propaganda eleitoral – a esposa Dayany e os filhos Felipe, 9, e Rayane, 14, três nomes que os eleitores, alguns em tom jocoso, aprenderam a decorar e a Internet imediatamente transformou em meme, ao lado do quitute pelo qual o candidato se tornou mais famoso que herói de quadrinhos – o Martinho da Vila.
Festa no Siqueira
Segunda-feira, 26, Bom Jardim. Às 16h20min, uma Hilux preta estaciona na rua Edilson Martins, um corredor movimentado que liga duas escolas – uma pública e uma privada – ao Centro Cultural que leva o nome do bairro.
Do carro, vestindo camisa polo azul, calça jeans e tênis Nike branco, cabelo cortado bem rente, Capitão Wagner desce para uma caminhada de aproximadamente uma hora e meia. Acompanhado pela esposa, uma trupe de assessores e candidatos a vereador, seria a primeira de uma série de atividades apenas naquela tarde.
O rito é o mesmo desde o início da campanha: num ziguezague extenuante entre casas dos dois lados da rua, o candidato cumprimenta o eleitor com um aperto de mãos, troca duas ou três palavras – normalmente sobre suas propostas –, despede-se com um abraço e parte para o endereço seguinte.
Raramente se demora.
Apesar do ritmo, que impõe poucas horas de sono - Wagner costuma dormir por volta de uma da manhã e acordar às sete -, Dayany não reclama. Aos 35 anos, 15 dos quais ao lado do “Capitão”, a morena de riso fácil tem se esforçado para abandonar a timidez e ajudar o marido na peleja para se tornar prefeito e ela, primeira-dama da Capital.
“Procuro sempre acompanhar (o candidato). Mas sou responsável pela minha casa também, pelas contas etc. Não deixo faltar nada pros meninos. Tenho que me dividir entre reunião de colégio e carreata”, conta.
Na última terça-feira, por exemplo, o casal fazia campanha no Siqueira, um lugar especial para os dois. Foi lá que se conheceram. Assim como o doce preparado pelo pai de Wagner, a história também é velha conhecida de quem acompanhou o horário eleitoral. “Foi numa casa de forró aqui que a gente se encontrou, o Sítio Siqueira. Eu morava no Barroso e o Wagner, no João XXIII.” Amor à primeira vista.
Pergunto se, nesse tempo, aprendeu a fazer Martinho da Vila. Dayany gargalha. “Eu lembro que, quando tava grávida, todo dia que acordava, ia comer o doce. Mas nunca aprendi a fazer.”
Bastidores
1 Dayany Bittencourt (centro), esposa do Capitão Wagner (PR), acompanha caminhada no bairro Siqueira, onde, numa casa de forró, o casal se conheceu, 15 anos atrás.
2 Na companhia da esposa do senador Eunício Oliveira, Mônica Paes de Andrade (direita), Dayany faz campanha pela cidade, enquanto Wagner realiza outas atividades eleitorais.
3 Wagner posa ao lado de fãs do deputado federal fluminense Jair Bolsonaro (PSC-RJ), durante caminhada no bairro Bom Jardim.
4 Atual vice-prefeito de Fortaleza, Gaudêncio Lucena, vice na chapa de Capitão Wagner, participou de carreata na quarta-feira passada pelas ruas do bairro João XXIII, onde o candidato do PR nasceu.
5 A partir de hoje, o deputado federal Vitor Valim (PMDB) se integra à campanha de Wagner pela Prefeitura. O parlamentar desistiu de candidatura ao Executivo municipal em meados deste ano.
VÍDEO
Assista ao webdoc com o dia de campanha de Capitão Wagner no link: www.opovo.com.br/videos